São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O ridículo e a incompetência

BRUXELAS - Bom, finalmente alguém teve a delicadeza e a brilhante inteligência de resolver todos os problemas da miséria brasileira: basta que o país aumente "em dez ou 15 vezes" o dinheiro para programas como o Bolsa-Escola para compensar as disparidades de renda e integrar os mais pobres ao mercado.
Autor da brilhante idéia que certamente nunca havia ocorrido a ninguém na face da Terra: o Banco Mundial.
Agora é razoável supor que o banco, instituição gêmea do Fundo Monetário Internacional, dirá a seu colega da calçada em frente em Washington que o superávit primário exigido do Brasil tem de ser modificado. Em vez de 4,25% de "lucro" do governo (para pagar juros), deve haver um baita déficit, de forma a sobrar dinheiro para o gasto extra com Bolsa-Escola.
E, de quebra, para aumentar os salários da polícia, dos funcionários públicos em geral, para comprar equipamentos para que a polícia seja um tiquinho menos ineficiente, para construir presídios e tentar evitar a superlotação, que é uma das causas de selvagerias como a que se viu na semana passada, para recompor as estradas federais virtualmente inutilizadas e para... (o leitor preenche a sua prioridade, que não faltará).
É ridículo que uma organização internacional se dê ao desplante de fazer sugestões que, embora na essência sejam corretas, não têm como ser levadas à prática na conjuntura brasileira.
Para que a sugestão valesse de fato, seria preciso o seguinte, não necessariamente nesta ordem:
1 - Mudar as políticas impostas pelos organismos internacionais e respaldadas pelos países ricos.
2 - Mudar a política interna.
3 - Criar competência no atual governo para, ao menos, gastar o que lhe sobra, depois de descontado o dinheiro para pagar juros. Quem economiza 5,41% do PIB, quando estava obrigado a poupar 4,25%, é de uma incompetência espantosa.
Pior: é um "serial incompetent", dado que essa economia estúpida vem desde a posse.


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