São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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BELETRISMO ALARMISTA

Delírio histórico é a expressão que melhor resume as considerações do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B-SP), sobre a CPI dos Correios.
Até prova em contrário, estamos diante de uma crise política que, por mais ruidosa e grave que se afigure, está longe de constituir uma ameaça de ruptura institucional. O ministro, entretanto, preferiu ver nas reações ao escândalo uma conjura de forças dispostas a depor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mais do que isso, Rebelo afirmou que essas forças malignas "são as mesmas que desde o início da República quiseram derrubar o governo do presidente Floriano Peixoto sem sucesso, tentaram contra o presidente Getúlio Vargas, contra Juscelino [Kubitschek], contra o presidente Jânio Quadros, João Goulart...".
Intérprete privilegiado do materialismo histórico, Rebelo também explicou por que alguns parlamentares de esquerda assinaram o requerimento da CPI: "Nesses movimentos, quando a direita tenta desestabilizar governos democraticamente eleitos e não aceita seu êxito e seu sucesso, setores da esquerda funcionam como linha auxiliar desse processo de desestabilização".
O beletrismo histórico de Rebelo, a que se resumiu o fracassado projeto comunista defendido por sua agremiação, pode agradar a alguns veteranos "progressistas", mas de maneira nenhuma apresenta um contexto verossímil para a atual crise. Apenas adiciona-lhe mais uma dose de irracionalidade e alarmismo.
Ninguém duvida de que Lula seja o governante legítimo, e só um néscio diria que ele não chega ao fim de seu mandato. Apostadores sensatos vêem, na realidade, boas chances de que seja reeleito. Quanto à oposição, faz o que o PT fazia no passado: criar o máximo de ônus político para a administração federal na expectativa de extrair dividendos eleitorais.
Como observou o escritor Paul Valéry (1871-1945): "A história justifica o que se quer justificar. Ela não ensina nada a rigor, pois contém tudo e dá exemplo de tudo". Quando se tem uma imaginação como a de Rebelo, então, o delírio não conhece limites.


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