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CARLOS HEITOR CONY
Baixo astral
RIO DE JANEIRO - Nos últimos meses, a rigor desde o segundo mandato de
FHC, o principal assunto que canaliza denúncias, cóleras, frustrações e
desculpas é a corrupção -em suas
diferentes modalidades. Se formos
medir em centímetros quadrados de
papel o que se publica atualmente, o
tema ganha disparado de qualquer
outro. Por um motivo simples: não há
outro assunto que faça a sociedade
discutir, aprovando ou recusando o
que diariamente é revelado na vida
nacional.
Não adianta argumentar que a
corrupção é antiga, vem lá de trás, da
mais remota Antiguidade, e foi comum a todas as civilizações que se
sucederam no palco da história.
Acontece que, ao lado da corrupção,
coisas importantes foram realizadas,
e o mundo rolou para a frente. Só para dar um exemplo: no tempo de Napoleão, havia corrupção em tudo,
mas os ideais da Revolução Francesa
se expandiram, houve o Código Civil.
Pulando para o Brasil mais recente.
Nos tempos de Vargas e JK, havia elevada taxa de corrupção, mas de tal
maneira Vargas e JK realizaram um
projeto nacional, fizeram tantas e tamanhas coisas, que o preço pago aos
desvios de verbas e das pilantragens
ficou sendo menor do que o benefício.
A crise que hoje sofremos é a da falta de um programa de realizações
concretas, de uma linha de governo
que, além do discurso e das entrevistas na mídia, crie uma frente de trabalho importante para o desenvolvimento nacional, uma linha de ação
social que vá além de projetos demagógicos e furados como o Fome Zero e
a Bolsa Família.
Nas rodas que se formam nas universidades, nos bares, nas reuniões de
executivos ou de empregados, não há
muito o que comentar. Os assuntos
internos de cada grupo logo se esgotam. O que sobra é o volume e a malignidade da corrupção. Nunca o astral da nação andou tão baixo. Apesar da cara presidencial, que parece
estar alta.
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