São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Baixo astral

RIO DE JANEIRO - Nos últimos meses, a rigor desde o segundo mandato de FHC, o principal assunto que canaliza denúncias, cóleras, frustrações e desculpas é a corrupção -em suas diferentes modalidades. Se formos medir em centímetros quadrados de papel o que se publica atualmente, o tema ganha disparado de qualquer outro. Por um motivo simples: não há outro assunto que faça a sociedade discutir, aprovando ou recusando o que diariamente é revelado na vida nacional.
Não adianta argumentar que a corrupção é antiga, vem lá de trás, da mais remota Antiguidade, e foi comum a todas as civilizações que se sucederam no palco da história. Acontece que, ao lado da corrupção, coisas importantes foram realizadas, e o mundo rolou para a frente. Só para dar um exemplo: no tempo de Napoleão, havia corrupção em tudo, mas os ideais da Revolução Francesa se expandiram, houve o Código Civil.
Pulando para o Brasil mais recente. Nos tempos de Vargas e JK, havia elevada taxa de corrupção, mas de tal maneira Vargas e JK realizaram um projeto nacional, fizeram tantas e tamanhas coisas, que o preço pago aos desvios de verbas e das pilantragens ficou sendo menor do que o benefício.
A crise que hoje sofremos é a da falta de um programa de realizações concretas, de uma linha de governo que, além do discurso e das entrevistas na mídia, crie uma frente de trabalho importante para o desenvolvimento nacional, uma linha de ação social que vá além de projetos demagógicos e furados como o Fome Zero e a Bolsa Família.
Nas rodas que se formam nas universidades, nos bares, nas reuniões de executivos ou de empregados, não há muito o que comentar. Os assuntos internos de cada grupo logo se esgotam. O que sobra é o volume e a malignidade da corrupção. Nunca o astral da nação andou tão baixo. Apesar da cara presidencial, que parece estar alta.


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