São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O fracasso prenunciado do PT

ANTONIO CARLOS MAGALHÃES

Sinceramente, eu não desejava que o fracasso do governo petista se prenunciasse dois anos antes do término do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não desejava porque, antes de pensar, de sentir e de agir como político de oposição, minha consciência de homem público me obriga a pensar, a sentir e a agir como brasileiro não apenas interessado mas empenhado em que o país de tantos desacertos um dia dê certo.
Aliás, não foi senão a expectativa de que o Brasil pudesse dar certo com ele que levou milhões de eleitores, inclusive eu, sem outras opções, a colocar Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, nas eleições de 2002. Pelas circunstâncias daquele momento, por mais que tenha me enganado e por mais que tenha e continue a ser enganado, não me arrependo de ter votado nele, nem mesmo de ter influenciado, de alguma forma, meus eleitores e meus amigos a fazê-lo também.
Se me perguntarem se, com a opção por Lula, a exemplo da maioria dos brasileiros, eu embarquei para uma viagem rumo ao desconhecido, não há como negá-lo, mas me justifico e até justifico os que comigo se aventuraram na viagem que seria de redescoberta do Brasil. Além de não contarmos com uma opção que nos parecesse, a mim, em particular, a mais indicada em 2002, tínhamos, como hoje a tenho -mais forte ainda-, a convicção de que, fracassada a expedição petista, como de fato fracassou, mal se cumpriu metade do percurso, poderíamos retornar ao ponto de partida para uma viagem segura.
É verdade que já perdemos dois anos e quatro meses de nossa história. Porém, nunca é demais recordar que anos e meses se recuperam na vida de um povo com relativa facilidade, desde que, ao contrário do que fez o PT, se estabeleçam metas que se possam cumprir. Eu aposto muito no amadurecimento que as oposições brasileiras adquiriram durante a passagem efêmera e decepcionante do PT pelo governo do país. Falo do fracasso petista como fato consumado porque não vejo condições de reversão do panorama atual.


Falo do fracasso petista como fato consumado porque não vejo condições de reversão do panorama atual

O fato de pertencer aos seus quadros não me torna suspeito para afirmar que o PFL é, hoje, seguramente, a agremiação partidária brasileira que melhor está se capacitando para, no momento oportuno, com candidato próprio ou ao lado de agremiações aliadas, assumir o poder para repor as imensas perdas que o país vem acumulando ao longo do governo petista, sobretudo na área social, cujo déficit cada vez nos preocupa mais, e corrigir os rumos de uma economia que se distanciou por completo do social.
Eu entendo, e é assim que o meu partido entende, que uma economia não se avalia a partir de sua capacidade de captação de recursos para o pagamento prioritário de dívidas externas. Os compromissos com o FMI e outros organismos internacionais devem ser honrados, sem que se esqueçam, porém, os milhares de brasileiros, inclusive crianças, que morrem diariamente de desnutrição, país afora.
Nosso grande desafio de momento é levar o nosso programa alternativo de crescimento uniforme do Brasil às mais diversas camadas da população, enfrentando a máquina publicitária de um governo que se sustenta nela -daí já não se constranger, sequer, ao subtrair, compulsoriamente, de servidores comissionados cotas mensais de "colaboração" para suas farras promocionais.
À propaganda enganosa do PT, porém, o PFL contrapõe seu compromisso icástico com o social, que o governo Lula inexplicavelmente abandonou. E o faz como partido que vem fortalecendo também sua unidade interna, para atender aos vários segmentos que o compõem.
O PFL é hoje uma agremiação que trabalha para evitar as rupturas em alguns de seus setores, sobretudo aqueles que, ao longo de sua história, sempre demostraram força eleitoral. A conseqüência disso é um partido de decisões cada vez mais descentralizadas e, por isso mesmo, mais afinadas com os anseios da coletividade, como convém, aliás, aos partidos democráticos, e apto a preencher o imenso vazio que o PT está deixando em sua fracassada tentativa de governar o Brasil.
Por fim, sempre é bom lembrar que o PFL não está só. Como ele, outros partidos políticos hoje militam na oposição com a responsabilidade dos que já governaram e, por essa razão, sabem a complexidade que envolve exercer o poder. E demonstram isso agora que estão na oposição.

Antonio Carlos Magalhães, 78, é senador pelo PFL da Bahia e presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. Foi presidente do Senado (1997-99 e 1999-2001), governador do Estado da Bahia (1991-94) e ministro das Comunicações (governo Sarney).

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