BRASÍLIA - O PT saiu da defensiva, partiu para o ataque e fez dois gols: 1) Lula antecipou os recados que precisava dar e, ontem, o mercado já parecia menos nervoso; 2) o partido enfim fechou a aliança com o PL e produziu um palanque bem mais eclético do que nas eleições anteriores.
Além do gesto de se oferecer para o diálogo com FHC, o conteúdo de Lula foi maduro e responsável: transição respeitando contratos, metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário de 3,75% do PIB. Quase o "continuísmo sem continuidade" de José Serra, mas necessário num quadro grave de turbulência.
E o palanque: em vez das imagens obsoletas (com todo o respeito pela história de cada um) de 98 -Brizola, João Amazonas, Miguel Arraes-, o PT ampliou o leque de representação na sociedade. Não fez só uma "aliança de esquerda". Fez mais que isso.
Os petistas e os jornalistas podem torcer (e torcemos) o nariz para uma aliança com o PL da Igreja Universal. Mas a convenção do PL no domingo foi eleitoralmente significativa: a igreja pragmática ao lado do ateu PC do B, o grande empresário José Alencar ao lado do sindicalista moderado Luiz Antonio de Medeiros.
Destaque para o discurso de Alencar. Simples, quase simplório, representa o "homem do povo" que veio de baixo e deu certo, a defesa da produção e do interesse nacional. Com alguns "causos" e pitadas de humor, leva jeito para palanqueiro.
O único problema é que Lula mais Alencar é igual a uma chapa de autodidatas sem diplomas e lustro intelectual. Muita gente desdenha. Mas há quem dê muito valor e nem se lembre de que Serra é filho e neto de feirantes semi-analfabetos.
Foram dois gols importantes de Lula e do PT, mas há outros jogos pela frente. Um dos mais perigosos é o da Prefeitura de Santo André. Fica feio repisarem o de sempre: "uso político!", "coisa de tucano!", "foi o Serra!".
É melhor reconhecer o que precisa ser reconhecido -para isolar o foco e salvar o corpo do partido. Lula faz uma boa campanha. Tudo o que não precisa é de um gol contra.



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