São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

A causa e o efeito

RIO DE JANEIRO - O governo como um todo e as forças que o apóiam, como reserva técnica da operação "turbulência", fazem questão de deixar claro que nada têm contra a eleição de outubro, muito pelo contrário, dão toda a força.
Mas, como o governo, que durante oito anos se submeteu ao mercado, tornando-se o seu executivo ostensivo e assumido, não tem gerência oficial sobre o próprio mercado, uma vez que ele está sem as algemas paternalistas e varguistas de outras eras, nada pode fazer a não ser declarar que a "turbulência é passageira".
Evidente que é. Qualquer turbulência é passageira no ar, no mar ou na terra. Ou o aparelho resiste e vence a turbulência ou se desintegra e vai para o brejo.
Do ponto de vista do governo, a turbulência vem do nervosismo do mercado, sobre o qual ele não tem controle, pois é um governo neoliberal.
A falta de confiança no Brasil não se deve aos oito anos sem crescimento, aos déficits interno e externo, à concentração de renda, ao índice de corrupção -que nada fica a dever à Argentina.
O mercado está nervoso porque Lula não acerta a colocação dos pronomes e diz "poblema" em vez de problema. O dólar está subindo porque Garotinho, apesar de candidato presidencial com menos chance, não sabe o que é H20, apelido científico da água que bebemos.
A lógica aristotélica criou um axioma que resiste aos tempos: ""Sublata causa, tollitur effectus". Eliminada a causa, elimina-se o efeito.
São muitos os Aristóteles que estão por aí -na TV, na mídia e nos simpósios cívicos-, lembrando a todos nós que, se não eliminarmos a causa, pegaremos o rabo de foguete da Argentina. Sairemos da turbulência provisória e mergulharemos no caos definitivo.
Nunca foi tão fácil e cômodo fazer um diagnóstico.



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