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CARLOS HEITOR CONY
A causa e o efeito
RIO DE JANEIRO - O governo como um todo e as forças que o apóiam, como reserva técnica da operação "turbulência", fazem questão de deixar
claro que nada têm contra a eleição
de outubro, muito pelo contrário,
dão toda a força.
Mas, como o governo, que durante
oito anos se submeteu ao mercado,
tornando-se o seu executivo ostensivo e assumido, não tem gerência oficial sobre o próprio mercado, uma
vez que ele está sem as algemas paternalistas e varguistas de outras eras,
nada pode fazer a não ser declarar
que a "turbulência é passageira".
Evidente que é. Qualquer turbulência é passageira no ar, no mar ou na
terra. Ou o aparelho resiste e vence a
turbulência ou se desintegra e vai para o brejo.
Do ponto de vista do governo, a turbulência vem do nervosismo do mercado, sobre o qual ele não tem controle, pois é um governo neoliberal.
A falta de confiança no Brasil não
se deve aos oito anos sem crescimento, aos déficits interno e externo, à
concentração de renda, ao índice de
corrupção -que nada fica a dever à
Argentina.
O mercado está nervoso porque Lula não acerta a colocação dos pronomes e diz "poblema" em vez de problema. O dólar está subindo porque
Garotinho, apesar de candidato presidencial com menos chance, não sabe o que é H20, apelido científico da
água que bebemos.
A lógica aristotélica criou um axioma que resiste aos tempos: ""Sublata
causa, tollitur effectus". Eliminada a
causa, elimina-se o efeito.
São muitos os Aristóteles que estão
por aí -na TV, na mídia e nos simpósios cívicos-, lembrando a todos
nós que, se não eliminarmos a causa,
pegaremos o rabo de foguete da Argentina. Sairemos da turbulência
provisória e mergulharemos no caos
definitivo.
Nunca foi tão fácil e cômodo fazer
um diagnóstico.
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