São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O PT não mudou
MÁRCIO FORTES
O documento está repleto de expressões como "Estado democrático forte", "reconstrução da capacidade estatal", preservação e consolidação do Estado. Lê-se que, "em segmentos como petróleo, energia, saneamento, bancos, em que a presença das empresas estatais ainda é relevante, ela deverá ser preservada e consolidada". Informa-se que "o programa de privatizações será suspenso e reavaliado, sendo auditadas as operações já realizadas". No setor energético, poderá ocorrer uma "revisão" da privatização. É fácil entender por que os mercados se agitam quando Lula está em alta. Analistas de bancos de investimento estrangeiros recebem milhões de dólares em bônus para estarem atentos a tudo. Eles fazem o que poucos de nós têm paciência para fazer: lêem tudo o que lhes cai às mãos. E analista nenhum vai recomendar que se invista num país prestes a olhar torto para o capital estrangeiro. A instabilidade introduzida por um programa como esse é imensa. Assusta. Tornou-se politicamente correto minimizar os efeitos de uma vitória de Lula. Diz-se que vai estar tudo bem, que nada sairá do lugar. Não é bem assim. Outro dia, Lula comentou que pretende taxar em até 50% o Imposto de Renda. Foi desautorizado por economistas do próprio partido. O documento do PT desbota a imagem light que seus marqueteiros se esforçam em desenhar. Será que Lula o subscreveria? O PT tem esse grande problema. O partido não é um só, são muitos. Unidades fragmentadas, divisíveis por si mesmas e pela unidade. É quase um número primo, o PT. E essa autofagia colabora para tornar ainda mais confuso um quadro eleitoral que tem o candidato do partido como líder folgado. Procuram-se explicações para as sucessivas derrotas de Lula. O PT perde justamente porque não muda. Porque suas bases contaminam qualquer desejo sincero de adaptação a novos tempos. Porque há sempre um ranço estatizante, um viés nacionalista anacrônico que, à última hora, cobra sua presença. O melhor antídoto contra o PT é o próprio PT. Lula ostenta hoje a mesma liderança folgada de 1994. Comenta-se que Fernando Henrique decolou, a partir de maio daquele ano, graças ao plano Real. E que, como Serra não terá um plano Real diante de si, Lula estaria perto de subir a rampa do Planalto. Serra não terá uma nova moeda, é verdade. Fernando Henrique também não a teve em 1998. Mas o candidato do PSDB terá o que Lula nunca teve: capacidade de proporcionar ao eleitor a segurança de que conquistas passadas não serão sepultadas, de que o país não será lançado numa aventura perigosa em tempos de tragédia na Argentina. Ao se aproximar a eleição, o eleitor abrirá os olhos e se perguntará se vale a pena correr perigo. É o que tem feito há 13 anos. O dado novo desta eleição é que talvez Lula seja agora um produto mais bem-acabado, com design remodelado e inegavelmente bem concebido. O programa do PT aponta nessa direção. Não se deve perder de vista o que pensa quem vai governar com Lula -e talvez por ele. Márcio Fortes, 57, é deputado federal pelo PSDB-RJ e secretário-geral do partido. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Marta Suplicy: Sobre ser latino-americano Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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