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UM TRISTE ESPETÁCULO
Há momentos em que os indicadores econômicos deixam
sua frieza estatística e materializam-se em situações reais, humanas,
exemplares aos olhos da sociedade.
Foi o que ocorreu no Rio de Janeiro,
na segunda-feira, quando mais de 15
mil pessoas compareceram a um cadastramento para compor o banco
de reposição de vagas de garis da empresa municipal de limpeza urbana.
Tratava-se de uma convocação apenas para aqueles cujos nomes começam com as duas primeiras letras do
alfabeto. Como se viu nos jornais e
nas imagens da TV, a inscrição terminou em tumulto, com intervenção
da polícia, numa cena chocante e reveladora da gravidade do quadro
econômico e social brasileiro.
Ao dramático espetáculo do desemprego, juntam-se novos indicadores, que evidenciam a forte desaceleração da atividade econômica. Os
números do comércio varejista mostram que o setor, em abril, registrou
queda pelo quinto mês consecutivo.
Segundo informações do IBGE, todos os segmentos -supermercados, lojas de eletrodomésticos, concessionárias, postos, calçados e roupas- apresentaram resultados negativos em dois meses consecutivos,
março e abril.
A escassez de crédito, as taxas de
juros elevadíssimas, a perda de poder
aquisitivo dos consumidores e o aumento do desemprego repercutem
negativamente no comércio varejista. O setor fecha lojas, demite trabalhadores e promove liquidações. Os
shopping centers registram altos
percentuais de espaços não-ocupados. Entre fevereiro e abril, 74 mil
postos de trabalho foram fechados
no comércio na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com dados divulgados pelo Dieese.
Os indicadores de investimentos
da indústria e da construção civil caminham na mesma direção. A produção de insumos da construção civil recuou 5,15% nos primeiros quatro meses do ano, em relação ao
mesmo período do ano passado. A
importação de bens de capital, ou seja, máquinas e equipamentos despencou 30,6%.
A combinação de queda no comércio varejista e no investimento industrial indica que a chamada economia
real está desligando os motores. O
próprio setor exportador, que tem
evitado retração ainda mais acentuada da atividade, começa a conviver
com os efeitos de um câmbio para
ele menos favorável.
Nesse cenário, se as duras condições creditícias não forem arrefecidas, a economia brasileira estará
condenada a um processo recessivo
de proporções significativas nos próximos meses. A falta de investimentos pode criar estrangulamentos em
determinados setores da indústria, o
que dificultaria ainda mais a recuperação da produção e do emprego.
Os índices de inflação estão nitidamente em queda, como atesta a divulgação do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), que recuou de 0,85 %, em
maio, para 0,22%, em junho, abaixo
do previsto por analistas.
Diante desses dados, o excesso de
conservadorismo do Banco Central,
que reduziu em apenas meio ponto a
taxa básica de juros, fica, mais uma
vez, patente. A boa notícia foi a decisão de ontem do Conselho Monetário Nacional, que ampliou a meta de
inflação para 2004. A inflação máxima que o BC admitirá no ano que
vem passou de 5,5% para 8%. A decisão sugere a possibilidade de uma
política monetária menos rigorosa
para a economia real. Já é hora de o
governo Luiz Inácio Lula da Silva começar a cumprir as promessas que o
elegeram, ou seja, governar para o
emprego, para a produção e para a
redução da pobreza.
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