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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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CRISE HOSPITALAR

Não é exatamente uma novidade afirmar que hospitais -principalmente os públicos e os filantrópicos, que atendem pelo SUS (sistema único de saúde)- estão em situação de penúria. Pesquisa do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), divulgada pela Folha no domingo, revela com nitidez os problemas mais graves.
Foram vistoriados pelo conselho 1.011 hospitais, prontos-socorros e prontos-atendimentos paulistas. O quadro que emerge da vistoria é preocupante. Faltam equipamentos e pessoal, a área física é muitas vezes inadequada e determinados procedimentos básicos deixam de ser realizados com frequência.
Parte significativa dos problemas detectados estão relacionados com um antigo problema da área -a falta de verbas. De acordo com o levantamento, apenas 34,9% dos hospitais possuíam 91% ou mais dos equipamentos imprescindíveis na sala de cirurgia e 56,5% não tinham a aparelhagem mínima em suas unidades de tratamento intensivo (UTIs). Não é uma situação aceitável, ainda que se possa reconhecer que estamos nos referindo aqui a máquinas de custo elevado, como respiradores e monitores cardíacos.
Existe, porém, uma classe de problemas graves e comuns constatada pelo Cremesp cuja solução não depende de novas e vultosas verbas. É lamentável que 68,2% dos hospitais não apresentem seus prontuários corretamente preenchidos. Também é constrangedor que apenas 34,2% dos prontos-socorros obedeçam a quesitos de biossegurança, isto é, que nem sequer descartem seu lixo de modo apropriado.
Ter seu prontuário corretamente preenchido, isto é, de forma legível e completa, é um direito do paciente e que ainda reduz enormemente os riscos de erros de diagnóstico, redundando em economia para o sistema. Seria até desnecessário mencionar quão absurdo é o fato de que boa parte dos prontos-socorros não disponha nem das caixas de papelão para o descarte de agulhas usadas. Por conta de uns poucos reais de economia, coloca-se em risco a saúde de todas as pessoas que entrarão em contato com os dejetos, o que inclui médicos e enfermeiros -mas afeta principalmente faxineiros e lixeiros.
Médicos e pessoal de saúde em geral podem e devem reivindicar mais verbas para o setor, mas também precisam levar em conta os direitos do paciente e cumprir rotinas básicas da boa prática médica, que são, por vezes, deixadas de lado.


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