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BRASIL E COLÔMBIA
Mais uma vez, uma visita do
presidente colombiano Álvaro Uribe ao Brasil foi marcada por
alertas sobre a possibilidade da expansão das fronteiras do tráfico na
região amazônica. Uribe chegou a
afirmar que o aumento do plantio de
coca poderia, no curso de uma ou
duas gerações, devastar área significativa da floresta, levando à "destruição da bacia amazônica".
A profecia parece uma tentativa de
oferecer novos argumentos à opinião pública e ao governo brasileiros
com vistas a um apoio mais decidido
do país ao combate que Uribe trava
contra a guerrilha colombiana. Não
é preciso, no entanto, acenar com
um desastre ambiental para agravar
um cenário já em tudo preocupante.
A previsível degeneração das guerrilhas colombianas em pura delinqüência tem dificultado a solução de
um conflito que se alonga há décadas no país vizinho. A ausência de
um mínimo de racionalidade política
entre os grupos armados que controlam áreas da floresta e se associam
ao tráfico de drogas reforça a alternativa militar, pela qual Uribe optou.
As críticas à estratégia do líder colombiano devem-se, em geral, ao fato de que ela só tem se tornado possível devido ao forte apoio norte-americano -que, a propósito, vem enfrentando resistências no Congresso
dos EUA para ser renovado. Essa situação aprofundou a dependência da
Colômbia em relação a Washington.
Todavia, no tocante ao tráfico, dificilmente a "guerra contra as drogas"
dos EUA terá êxito. Mesmo que imponha uma derrota militar às Farc e
cerceie o plantio de coca na Colômbia, será difícil revogar uma lei que os
norte-americanos conhecem muito
bem: enquanto houver demanda haverá quem queira saciá-la. E, no caso
da cocaína, o grande mercado são os
próprios EUA. A hipótese que muitos levantam com preocupação é o
tráfico migrar ou se fortalecer em
países vizinhos, levando atrás de si
os militares norte-americanos.
O papel do Brasil deve ser o de condenar as Farc sem ambigüidades, zelar pelas fronteiras e mover esforços
para uma saída negociada.
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