São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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BRASIL E COLÔMBIA

Mais uma vez, uma visita do presidente colombiano Álvaro Uribe ao Brasil foi marcada por alertas sobre a possibilidade da expansão das fronteiras do tráfico na região amazônica. Uribe chegou a afirmar que o aumento do plantio de coca poderia, no curso de uma ou duas gerações, devastar área significativa da floresta, levando à "destruição da bacia amazônica".
A profecia parece uma tentativa de oferecer novos argumentos à opinião pública e ao governo brasileiros com vistas a um apoio mais decidido do país ao combate que Uribe trava contra a guerrilha colombiana. Não é preciso, no entanto, acenar com um desastre ambiental para agravar um cenário já em tudo preocupante.
A previsível degeneração das guerrilhas colombianas em pura delinqüência tem dificultado a solução de um conflito que se alonga há décadas no país vizinho. A ausência de um mínimo de racionalidade política entre os grupos armados que controlam áreas da floresta e se associam ao tráfico de drogas reforça a alternativa militar, pela qual Uribe optou.
As críticas à estratégia do líder colombiano devem-se, em geral, ao fato de que ela só tem se tornado possível devido ao forte apoio norte-americano -que, a propósito, vem enfrentando resistências no Congresso dos EUA para ser renovado. Essa situação aprofundou a dependência da Colômbia em relação a Washington.
Todavia, no tocante ao tráfico, dificilmente a "guerra contra as drogas" dos EUA terá êxito. Mesmo que imponha uma derrota militar às Farc e cerceie o plantio de coca na Colômbia, será difícil revogar uma lei que os norte-americanos conhecem muito bem: enquanto houver demanda haverá quem queira saciá-la. E, no caso da cocaína, o grande mercado são os próprios EUA. A hipótese que muitos levantam com preocupação é o tráfico migrar ou se fortalecer em países vizinhos, levando atrás de si os militares norte-americanos.
O papel do Brasil deve ser o de condenar as Farc sem ambigüidades, zelar pelas fronteiras e mover esforços para uma saída negociada.


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