São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A mentira e a "boquinha"

SÃO PAULO - Há pelo menos um mentiroso na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Ou ele se chama Luiz Inácio Lula da Silva e ocupa o cargo de presidente da República, ou se chama Ricardo Berzoini e é ministro do Trabalho e Emprego.
A dedução é inevitável e inescapável quando se comparam declarações de um e de outro sobre o salário mínimo e a Previdência.
O presidente disse, mais de uma vez, que adoraria dar uma baita aumento para o salário mínimo, mas, se o fizesse, a Previdência quebraria.
Pois bem, reproduzo abaixo notícia de ontem da Agência Brasil, do próprio governo:
"O ministro do Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini, afirmou durante o programa "Diálogo Brasil", exibido ontem (quarta-feira) pela TV Nacional, que "o problema da Previdência não é a vinculação do piso com o salário mínimo. É um problema de crescimento econômico".
"Na área urbana", acrescentou, "a Previdência é praticamente equilibrada, mas na área rural ela foi criada para ser subsidiada'".
A afirmação é cristalina. Não admite outra interpretação a não ser a de que ou o presidente não sabe o que está dizendo ou o ministro é um tremendo mentiroso. Qualquer que seja a interpretação, não é boa para um governo que demonstra, dia após dia, que não tem a mais remota idéia do que pretende fazer com o país.
De quebra, a frase de Berzoini desmoraliza todos os petistas que votaram contra o mínimo de R$ 275 aprovado pelo Senado. Alguns podem até ter sido enganados, acreditando que votavam a favor dos cofres da Previdência (mesmo assim, se é tão fácil enganá-los, deveriam sair da vida pública).
Mas parece evidente que a grande maioria votou mesmo levada por uma definição do PT ("partido da boquinha") sapecada tempos atrás por Anthony Garotinho.
A maioria dos deputados petistas que votou pelo mínimo mais mínimo não estava defendendo a Previdência, mas a sua boquinha no governo ou no partido do governo.


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