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Reedição da chapa Lula-José Alencar comprova que, de 2002 para cá, o sistema partidário ficou ainda mais frágil
POUCAS VEZES um termo
tão insípido e burocrático
-a saber, o da "formalização", anunciada ontem, da candidatura Lula ao segundo mandato presidencial-
adquiriu significado mais preciso e eloqüente.
Com efeito, na convenção do
PT realizada em Brasília, neste
sábado, tratava-se apenas de revestir com a necessária chancela
legal uma postulação que, a cada
evento público, a cada surto verborrágico ou silêncio comprometedor do presidente, estava
colocada na prática desde o primeiro dia do seu governo.
A circunstância de que, à última hora, também o nome do
candidato a vice se tenha repetido nessa chapa -depois de frustradas as tentativas de contar
com representantes do PSB em
vez do nome de José Alencar-
intensifica, sem dúvida, a impressão de mesmice.
Paradoxalmente, a reedição da
mesma chapa ilumina as diferenças, no que tange às expectativas políticas e ao cenário ideológico, entre a disputa de 2002 e
a deste ano. Empresário e então
membro do PL, José Alencar
surgiu como vice, no pleito anterior, para afastar os temores de
que o PT promovesse rupturas
radicais com o sistema. Por ironia, foi tão ortodoxa a condução
da política econômica no atual
governo que viriam de José
Alencar algumas das críticas
mais acerbas ao modelo adotado.
As esperanças de renovação
expressas na vitória de Lula em
2002 cederam lugar a um continuísmo acomodado, em que a figura pessoal do presidente paira
como uma espécie de "pai dos
pobres" acima de qualquer compromisso ideológico. O personalismo de sua postulação, cobrindo com uma espessa camada de
auto-elogio sentimental a ruína
ética e doutrinária do PT, duplica-se palidamente no constrangedor episódio dos amuos de José Alencar ao se ver preterido
nas negociações iniciais em torno da próxima candidatura.
Pertencendo agora a um vago
PRB, e não mais ao PL - entre
cujos defeitos não estava a falta
de nitidez nos objetivos e procedimentos cotidianos-, José
Alencar queixou-se dos movimentos em direção a nomes do
PSB na composição da chapa.
Terminou convidado, já que a regra da verticalização impôs, ainda uma vez, embaraços às alianças partidárias pretendidas.
Nessa consternadora trama de
desencontros e reconciliações, o
peso do aspecto pessoal só ganha
importância porque, nos últimos
quatro anos, a cronicamente frágil estrutura partidária brasileira, e tudo o que pudesse apontar
de diversidade no plano programático, soçobrou em meio a escândalos inauditos e ao fisiologismo de sempre. Leis excessivamente rígidas no plano eleitoral
agravaram o quadro.
A discussão de projetos viáveis
de reforma e de mudança parece
ser o que menos conta na candidatura Lula e na de seu aguado
rival. Com partidos e programas
reduzidos a uma insignificância
rara, mesmo para os padrões
brasileiros, o jogo político se faz,
assim, no âmbito menor das personalidades humanas, demasiado humanas, que o praticam.
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