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JOSÉ SARNEY
Canção da Copa
Nenhuma Copa empolgou
tanto o Brasil quanto a de 70.
Ela marcou o nosso povo e o
povo mexicano. Quinze anos
depois, quando presidente da
República, visitei Guadalajara; as casas estavam enfeitadas com a bandeira de nossa
pátria e eles gritavam: "Viva
Brasil! Viva Brasil! Pelé!".
Mas eu queria relembrar o
motor da mobilização nacional, cantada pelo país inteiro,
que foi o "Hino da Seleção",
feito por Miguel Gustavo, este
pioneiro do jingle, esse gênio
do gosto popular -"Noventa
milhões em ação / Pra frente
Brasil / Salve a seleção!".
Os jingles de Miguel Gustavo invadiam as mentes das
pessoas, que ficavam com eles
na cabeça, cantarolando todo
o tempo, e eram transformados em marchinhas de Carnaval. Dois exemplos: os porquinhos das Casas da Banha, que
ele criou e popularizou, e a
"Revista do Rádio", que arrasou no Carnaval de 58: "Ela é
fã da Emilinha / Não sai do César de Alencar / Grita o nome
do Caubi / E depois de desmaiar / Pega a "Revista do Rádio" / E começa a se abanar...".
Elegeu o Jango com o célebre "Jangar". "Pra vice-presidente / minha gente eu vou
jangar / é Jango, é Jango / é o
Jango Goulart". Era uma mensagem subliminar de juntar o
Jânio da UDN com o Jango do
PTB, o famoso Jan-Jan. Resultado (naquele tempo podia), o
presidente de um partido e o
vice do outro lado.
Desfrutei do seu talento,
tornei-me seu amigo e senti
profundamente sua perda
prematura.
Nas 12 eleições em que concorri, não abandonei o seu slogan, repetido num baião nordestino: "Meu voto é minha lei
/ Pra deputado José Sarney",
cantado por Luís Vieira e Elizeth Cardoso.
Nesta Copa da África do Sul,
confesso que não acho graça
nas vuvuzelas. São sem gosto
e interferem, indigestas, na
alegria e nas cores que enfeitam e explodem dos torcedores. Mas tudo muda, e de mudanças são feitos o mundo e as
Copas.
A alegria do Brasil, identidade do povo brasileiro, veio
numa contradição infame da
África, que do sofrimento dos
negros tirou a única coisa boa
de que podiam desfrutar, a
força da alegria, para enfrentar a tragédia.
A alegria da África do Sul,
vibrando mesmo depois da
derrota, mostra que ela é mais
forte do que o próprio destino.
Não quero fazer uma crônica nostálgica. Quero a vitória
do Brasil, agora 200 milhões
em ação, vibrando com a seleção. Que venha o Hexa.
Se não
vier de Johannesburgo, virá de
outro lugar. Quem viver verá.
E sempre seja lembrado Miguel Gustavo, o cancioneiro
das Copas.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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