São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A imaginação ao poder

BRUXELAS - No relatório da comissão do Congresso norte-americano que investigou os atentados de 11 de setembro de 2001 há uma expressão ("failure of imagination" ou fracasso da imaginação) que poderia ser usada tranqüilamente para o Brasil dos dias que correm.
Lá, além de erros operacionais, a falha básica se deveu ao fato de que os Estados Unidos ainda estão (estavam, pelo menos) imaginando que a guerra era a guerra fria contra o comunismo, ganha uns 15 anos antes. Não tinham, por isso, "imaginação" para a nova guerra (contra o terrorismo), imensamente mais complicada porque o outro lado não quer ganhar; quer só aterrorizar.
Aqui também uma fatia imensa da mídia, da academia e do mundo político ainda luta a Guerra Fria. É por isso que há um coro formidável para dizer que a política econômica está dando certo ou já deu certo.
O subtexto é óbvio: o temor de que, se houver sinais de que algo não está dando certo, o PT estatiza o sistema financeiro, desapropria todos os latifúndios, produtivos ou não, dá o calote nas dívidas interna e externa e por aí vai.
Claro que estou caricaturando, mas não muito.
Fora os rentistas, os únicos verdadeiros beneficiários da política em vigor, como já demonstrou Luís Nassif dias atrás, não há como explicar o medo a discutir alternativas.
Alguém acredita a sério que crescimento econômico, ainda por cima moderado, basta para um país com os problemas estruturais e sociais do Brasil? O próprio ministro Antonio Palocci já disse que não acredita.
Quanto se fala de alternativas, não se está falando de socialismo, comunismo nem mesmo do cooperativismo (com todo o respeito) que o presidente Lula defendeu faz pouco.
O que é preciso é exatamente o que está no relatório da comissão do 11-S, para não falar de uma canção dos Beatles: imaginação.
A falta dela causou, nos EUA, 2.973 mortes. No Brasil, deve causar muitas mais todos os dias, e não apenas em um 11 de setembro.


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