São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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CÚPULA FRUSTRANTE

Por paradoxal que pareça, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que tem início amanhã em Johannesburgo, começou a fracassar dez anos atrás, na Eco-92, no Rio de Janeiro. Apesar de serem aguardados mais de cem chefes de Estado e/ou governo e cerca de 40 mil delegados, a conferência não deverá produzir grandes resultados. Não se espera a tomada de nenhuma decisão fundamental nem a assinatura de documentos que possam alterar o "statu quo" ambiental.
Parte das frustrações se explica pelo fato de a Eco-92 ter sido excessivamente ambiciosa. Os dois documentos então produzidos, um sobre mudança climática e outro sobre a diversidade biológica, estabeleceram metas que o mundo não foi capaz de cumprir. O planeta nunca esteve tão poluído, e nunca antes tantas espécies animais e vegetais estiveram tão ameaçadas de extinção.
Para além da quebra de expectativas, caminhou-se para trás em quesitos fundamentais. O evento mais grave foi, sem dúvida, a retirada unilateral dos EUA do Protocolo de Kyoto, o acordo que estabelece limites para as emissões de gases-estufa. Embora o tratado deva permanecer em vigor, ele se torna muito menos significativo sem a presença dos EUA, país que, sozinho, responde por 36,1% das emissões de CO2 das nações industrializadas. Outro revés importante se deu no âmbito do Fundo Global para o Ambiente, o GEF. Os países ricos não contribuíram como acordado para a constituição desse fundo, concebido para ajudar nações emergentes a financiar projetos ecológicos, aí incluídas certas iniciativas de combate à pobreza.
Em termos de futuro, as perspectivas tampouco são animadoras. A crise econômica global sugere tempos difíceis para investimentos em países pobres. Até o momento geopolítico é desfavorável. Depois do 11 de setembro, os EUA vêm adotando uma posição cada vez mais isolacionista, que tende a solapar iniciativas multilaterais como as que seriam necessárias para implementar programas ambientais de maior envergadura.
No caso específico do Brasil, a situação parece um pouco menos desfavorável. Em que pese o fato de o país não ter conseguido diminuir o ritmo de desmatamento, seu principal desafio ambiental, é razoável afirmar que, desde a Eco-92, desenvolveu-se bastante a consciência ecológica do brasileiro. O clima entre autoridades e ambientalistas deixou de ser de guerra para tornar-se de cooperação, o que vem permitindo a implementação de algumas políticas interessantes, como a criação de novos parques nacionais.
Para que não fique uma visão apenas negativa da cúpula de Johannesburgo, deve-se considerar como auspicioso o fato de a reunião despertar tamanho interesse internacional, apesar dos resultados até aqui frustrantes. Também são positivos os avanços obtidos ao longo da última década no conhecimento científico de problemas ambientais. Hoje ao menos já se tem certeza de que é preciso cuidar melhor do planeta, o que não era tão evidente dez anos atrás.


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