São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Uma discussão insustentável...

Com a presença de mais de 20 mil pessoas interessadas em um mundo mais limpo e mais humano, começa amanhã em Johannesburgo, África do Sul, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentado. Nada mais oportuno.
Todos querem um planeta sadio e justo. Mas, para tanto, crescer é essencial. Qualquer ação que venha a bloquear o crescimento econômico trará como consequência o prolongamento da pobreza e da miséria.
A fórmula do desenvolvimento sustentado não advém de um milagre e da adesão a essa ou àquela declaração internacional. Isso depende de um enorme conjunto de ações sinceras nas áreas ambiental, econômica e social.
Ninguém deve se iludir com os belos propósitos das "palavras de ordem" em reuniões desse tipo. Muita gente, em nome de princípios humanitários e alardeando querer preservar a natureza, deseja, no fundo, abafar a potencialidade dos países que têm mais chance de crescer.
Nesse ponto, o Brasil tem uma situação invejável: 60% da nossa energia vem de fontes renováveis (que poluem pouquíssimo), enquanto os demais países pretendem chegar a 12% em 2010. Atualmente, cerca de 85% da energia do mundo é de origem fóssil -subsidiada em US$ 120 bilhões por ano!
Entre 1990-2000, a emissão de gás carbônico originário da queima de combustíveis fósseis aumentou 9,1% no mundo e 18,1% nos Estados Unidos. Somente o acréscimo americano foi equivalente às emissões combinadas do Brasil, Indonésia e África do Sul no mesmo período.
A "contribuição" do nosso país na emissão mundial de gás carbônico é mínima -0,41%-, enquanto Estados Unidos, Rússia, China, Alemanha e Japão respondem por mais de 65%. Eles é que precisam tornar o desenvolvimento sustentável!
Entretanto, temos de reconhecer que mexer na matriz energética é um empreendimento de enorme complexidade. Ações mal orientadas podem levar o país a retroceder e, com isso, alastrar a pobreza, a injustiça e a miséria.
As autoridades americanas calcularam que a redução de 7% nas atuais emissões de gás carbônico até 2012, como prega o Protocolo de Kyoto, geraria um custo anual de US$ 400 bilhões por ano, o que comprometeria o crescimento dos Estados Unidos e, indiretamente, o do resto do mundo.
Foi por essa razão que o governo americano não aderiu àquele protocolo e que o presidente George W. Bush estará ausente na reunião que começa amanhã. Ou seja, o país que mais polui o mundo, na hora de corrigir o curso de sua ação, vai com cuidado, procurando proteger a sua economia e tudo fazendo para garantir os empregos do seu povo.
Nós, que poluímos pouco, temos muito mais razão de filtrar as críticas e os ataques que virão dos interessados na nossa estagnação. A emissão de impropriedades vinda das cabeças desses panfletários tem sido muito mais destruidora do que a emissão de gases -é uma emissão letal para quem precisa crescer, empregar, gerar renda e garantir justiça.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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