São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Caras e bocas

RIO DE JANEIRO - Os outros devem estar certos. Eu é que estou errado, como sempre. Na última semana, passei de carro por três capitais brasileiras: Porto Alegre, Curitiba e Rio. Fiquei impressionado com a poluição dos cartazes que divulgam o sorriso e as boas intenções dos candidatos.
Bem verdade que a bagunça visual foi pior no tempo das faixas e pichações. A coisa está mais ou menos disciplinada, mas não há poste, do Prata ao Amazonas, que não pareça um espetinho desses em que se servem pedaços de frango, alcatra e porco nas churrascarias.
Nem dá tempo de a gente tomar conhecimento da oferta, mais abundante do que a procura. Os cartazes, padronizados, pouco diferem uns dos outros. E, além dos galhardetes, que devem custar caro aos candidatos, há os outdoors imensos, com enormes caras e bocas, todas sorrindo, sorrindo de quê?
Eis um mistério. Quando aparecem na TV estão furiosos, indignados, ameaçam devassas, botar os ladrões na cadeia, mas, nos cartazes, sorriem com dentes impecavelmente limpos. Mais que propagandas de si próprios, parecem propagandas de pasta dental.
Reconheço que não tenho nenhuma alternativa a apresentar aos candidatos e à Justiça Eleitoral. Mesmo assim não aprecio o espetáculo. Acho que a criatividade humana, que inventou a bomba atômica e os perus congelados com aquele termômetro dentro do peito para regular o tempo de forno, bem que poderia descobrir um recurso menos feio e mais eficiente para divulgar os pretendentes à vida pública.
Já me disseram -não sei se é verdade- que a mania dos cartazes começou no faroeste, quando os xerifes mandavam colocar nos "saloons" a cara dos criminosos e a oferta em dólares por informações a respeito.
Deve ser qualquer coisa por aí. E podemos nos rejubilar, pois, ao contrário do faroeste, os cartazes pretendem mostrar os melhores que nos prometem melhores dias.


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