|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
A obsolescência dos vices
BRASÍLIA - Os três principais candidatos a vice-presidente estiveram
ontem juntos por duas horas num
debate promovido pela Folha e pelo UOL. Indagados sobre se a função já ficou obsoleta, todos tergiversaram ou responderam repetindo o que está na Constituição.
O vice-presidente (assim como
um vice-governador ou vice-prefeito) só serve para uma coisa: substituir o titular. Essa substituição
ocorre quando o presidente (governador ou prefeito) está em viagem
internacional ou se há impedimento permanente.
Há formas mais inteligentes, baratas e menos instáveis de suprir as
exigências constitucionais. O cargo
de vice é um estrangeirismo adotado numa época sem telefonemas
internacionais, comunicação via
satélite nem internet. Hoje, mesmo
um governante em viagem pode
continuar a comandar o país. É viável dar ordens até de dentro do
avião presidencial.
Se há necessidade de substituição -como em 1992, quando Fernando Collor sofreu o impeachment e deixou a cadeira para Itamar Franco-, seria muito mais democrático colocar no Planalto alguém escolhido pelo voto direto.
Com as urnas eletrônicas, pode-se
fazer uma eleição presidencial num
prazo de 90 dias, sem traumas.
É claro que são nulas as chances
de haver uma mudança na instituição do vice-presidente. Nem passa
pela cabeça dos políticos extinguir
esse posto. É conveniente aos partidos ter o cargo de vice para oferecer
a aliados numa disputa presidencial. O mesmo vale no caso dos 27
vice-governadores e outros cerca
de 5.600 vice-prefeitos.
O PMDB só deu seu precioso tempo de TV para Dilma Rousseff porque recebeu a vaga de vice na chapa petista. Foi também a opção do
DEM ao terceirizar seus minutos para o PSDB disputar o Planalto.
Aí está a única razão de existir da
obsoleta função de vice: ser a moeda de troca na negociação do horário eleitoral em rádio e TV.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Fernando De Barros e Silva: Mão na massa Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: O "globish" entre nós Índice
|