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RUY CASTRO
O "globish" entre nós
RIO DE JANEIRO - Há uma nova
língua no ar: o "globish", a língua
global -ou, se o vernáculo não falha, "globês". (Nada a ver com a TV
Globo, mas com um globo bem
maior: o próprio.) O conceito foi inventado pelo executivo francês
Jean-Paul Nerrière, ex-funcionário
da IBM, e é uma fusão entre "globe"
e "english". Mas não quer dizer que
o inglês se impôs de vez e que o
mundo inteiro aprendeu a falá-lo.
Na verdade, é o contrário.
O "globish" é um inglês básico,
reduzido a um vocabulário estritamente utilitário e a uma gramática
elementar, permitindo que nativos
de qualquer parte do mundo se comuniquem por essa língua comum.
Seus usuários são empresários,
agentes do mercado de capitais e
executivos vários, além de artistas
de cinema, cantores, modelos, esportistas e quem quer que circule
internacionalmente, mesmo que
dentro de um círculo limitado.
Isso significa que o "globish" pode ter variantes: um dialeto para as
Bolsas de Valores, outro para as
passarelas, outro para o futebol etc.
O que não o impede de ser entendido pelas facções, mais até do que
pelos nativos da língua inglesa. Seria como, na antiga Roma, o latim
vulgar, da plebe, em oposição ao falado pelos cidadãos.
Quanto a mim, acho que o Brasil
está não apenas praticando o "globish" faz tempo como já o vem
adaptando para o português. É o
que explica um slogan recente do
McDonald's, "Amo muito tudo isso". Ou o de uma empresa que oferece "personal services para customizar suas facilities". Ou o título
daquele seriado da Globo, "Nossa
Nada Mole Vida". Ou chamar teste
de "audição", plateia de "audiência" e aleatório de "randômico".
Isso é português ou um código
para iniciados? Dá a impressão de
que estamos sendo dublados por
nós mesmos. A culpa pode ser do
"globish", insinuando-se insidiosamente na nossa acolhedora e nada esperta língua -epa!
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