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ANTONIO DELFIM NETTO
Economia e história
Infelizmente, um número
ainda muito grande de analistas financeiros e importantes
membros da academia continua a discutir nossos problemas com enorme viés ideológico e sem sentir remorso pelo
seu profundo desconhecimento da história do Brasil e
da evolução da economia mundial.
Ainda agora, um deles, à
custa de torturar preconceitos
e acumular falsos silogismos,
"quase" concluiu que a crise
que se abateu sobre o Brasil e o
mundo em 1979 foi produzida
porque o governo brasileiro
terminou com a independência legal do seu Banco Central
em 1967! É como se ela não tivesse destruído as finanças
públicas de dezenas de países
e também promovido, de fato,
a desintegração dos satélites da finada URSS.
O que esquece é que o magnífico trabalho de arrumação
da economia brasileira produzido por Octávio Gouveia de
Bulhões e Roberto de Oliveira
Campos nunca poderia ter sido aproveitado se a política
monetária "independente"
(apoiada num fundamentalismo monetário inconsequente)
continuasse impedindo o desenvolvimento sem reduzir a inflação.
O BC apoiava a teoria governamental: era preciso, mesmo
à custa de uma profunda recessão se necessária, educar o
mercado com uma nova expectativa sobre a evolução da
taxa inflacionária. O pequeno
problema é que quem pagava
a conta (a sociedade) mostrava uma resistência crescente a
aprender a lição.
Entre 1967 e 1973, o PIB cresceu à taxa média anual de
10%, e a taxa de inflação caiu
de 46% para 14%. Em 1973,
nossa dívida externa líquida
era de US$ 8,5 bilhões, e as exportações (que cresceram à taxa de 20% ao ano) eram de
US$ 6,2 bilhões, com uma saudável relação dívida líquida/exportação de 1,4.
Os problemas a partir de
1974 tiveram muito mais a ver
com as duas crises do petróleo
do que com as pressões criadas pelas tentativas equivocadas de substituir importações
com um aumento generalizado de tarifas e o congelamento
dissimulado da taxa cambial
real (aproveitando o aumento
das relações de troca) para
controlar a inflação.
Mais importante do que tudo foi o fato que, entre 1954 e
1980, a Petrobras produzia
apenas 20% do petróleo que
consumíamos. Quando seu
preço foi multiplicado por
seis, em 1975, e depois por
mais sete, em 1979, só restava
ao Brasil a alternativa de endividar-se (como fizeram todos
os países emergentes não produtores de petróleo). Outra
saída (felizmente abandonada
num ataque de lucidez em
1978) seria um racionamento, que teria transformado o Brasil em Bangladesh...
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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