São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

As poucas conexões do PT

BRASÍLIA - É ocioso culpar o espírito atavicamente maligno e ganancioso do mercado pela alta exagerada do dólar. Acostumados a ganhar dinheiro, operadores enxergam risco e cobram por isso. É o que acontece agora com a chance de vitória de Lula.
Ocorre que o PT tem, para o bem ou para o mal, poucas conexões com um setor vital da sociedade contemporânea. Economistas e líderes da área econômica petista têm dificuldade para listar quem são as pessoas que importam no meio financeiro, sobretudo no exterior.
Em geral, conhecem aqueles que dão entrevistas a jornal e autorizam a publicação de suas frases e fotos. Há não muito tempo, um banqueiro que não se encaixa nessa categoria conversou com integrantes da cúpula petista. Administrador de algumas centenas de milhões de dólares, eis a sua impressão ao chegar:
"Foi como uma volta ao passado. Era como entrar num centro acadêmico da Libelu".
"Libelu" era uma tendência trotskista do movimento estudantil, popular nos anos 80.
Quando a conversa termina, em geral, a percepção muda. O banqueiro aqui citado considerou alguns dirigentes petistas bem intencionados, "mas ingênuos". Notou também uma enorme falta de contatos entre o "establishment" financeiro e o PT.
A falta de relacionamento com o mercado pode até ser uma vantagem marqueteira. Ajuda a vencer eleição, mas acaba causando movimentos indesejados na cotação do dólar. Trata-se de um fato da natureza.
Por "relacionamento" não se entenda fazer concessões ou se curvar ao mercado, para usar o surrado jargão petista. Trata-se apenas de circular, de conversar, de explicar.
O PT dedica-se a essa atividade mais do que nunca. Ocorre que ainda está longe do desejado, seja por falta de vontade, de vocação ou de incapacidade do partido. Entre outras razões, é por esse motivo que o dólar sobe. Não adianta reclamar com FHC.



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