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SEM TRANSPORTE
Cada vez mais pessoas estão
andando a pé pela simples razão de que não têm dinheiro para pagar o ônibus. Essa é uma das conclusões a que se chega a partir de um estudo do governo federal em dez cidades concluído em dezembro.
As classes D e E, com renda familiar de até R$ 496 (na época), representam 45% da população brasileira,
mas são apenas 27,5% dos usuários
dos serviços de ônibus municipais de
cinco centros urbanos. Como esse
contingente não possui renda para
locomover-se em veículos próprios,
o razoável seria esperar que constituísse a maioria absoluta dos que se
valem de transporte coletivo.
As consequências sociais desse fenômeno são iníquas. Os que já são
os menos favorecidos estão ainda sujeitos a maiores dificuldades. O número de empregos a que podem se
candidatar fica limitado pelo percurso que conseguem fazer a pé. Seus filhos só conseguirão estudar se encontrarem vagas em escolas próximas, o que nem sempre é possível.
É, assim, bastante oportuna a iniciativa de prefeitos das maiores capitais de reunirem-se para discutir a redução das tarifas. Como sempre
ocorre nessas horas, alguns verão na
redução dos impostos sobre o setor a
chave para a solução do problema.
Mas esse não é necessariamente o
melhor caminho. Se são os representantes das classes D e E que precisam
de apoio, é a eles que deve ser dada a
prioridade. Não há razão para subsidiar, com a renúncia fiscal, também
os passageiros das classes A e B.
Na verdade, o sistema já encerra injustiças. O trabalhador informal,
sem direito a vale-transporte, paga
hoje tarifa integral, arcando com parte dos ônus de benefícios distribuídos, por exemplo, a estudantes da rede privada, que têm direito a descontos de 50% ou mais.
Um poder público que em pleno
século 21 não consegue oferecer
transporte aos cidadãos mais pobres
é, sem dúvida, ineficiente.
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