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CLÓVIS ROSSI
Carta do último petista
SÃO PAULO - Conheci Carlos Fernando Galvão quando, estudante
ainda, era um desses raros poetas que
buscam soluções para os problemas
do mundo (ou, ao menos, para os de
seu entorno).
Queria palpites sobre um livro com
o relato de ações concretas. Hoje, aos
33 anos, é professor de geografia,
doutorando em ciências sociais e presidente da ONG Cidade Viva.
Militante de base do PT, estufava o
peito de orgulho. Agora, manda o e-mail que resumo a seguir: "Você afirmou, com boa razão, que, se havia
idealismo (no PT), antes do poder, ele
já acabou".
"Isso pode ter acontecido com a
nossa cúpula, mas não aconteceu
com boa parte da militância, na qual
me incluo. Tanto é verdade que queria o meu PT de volta, como já disse
em outras mensagens."
"Continuo, por exemplo, acreditando piamente que já pagamos a
nossa dívida externa uma dúzia de
vezes e apoiaria, de bom grado, uma
auditoria nela."
"Não mudei de opinião só porque
meu partido ascendeu ao governo.
Isso está me dando um desgosto muito grande, que só é aumentado
quando leio o que você escreveu."
"Mas não vale para todo o PT e
gostaria que você chamasse a atenção para isso. Da minha parte, estou
tão chateado que, em que pese o fato
de que há méritos no meu governo,
como a maravilhosa política externa, estou pensando se continuo filiado (eu me filiei há 14 anos, quando
tinha 19 anos)."
"Rossi, o que peço é que faça uma
coluna para nós, "neobobos", "dinossauros", "pré-modernos", como queiram chamar, mas que insistem em
ter uma ideologia, na boa acepção
da palavra."
"Rossi, fale da gente, cara. Dê-nos
um pouco de voz no meio dessa aridez em que o mundo em geral e o
Brasil em particular estão se transformando. Ajude-nos a não matar
na raiz o sonho de acreditarmos que
um outro mundo é possível."
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