São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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TORCIDA ÚNICA

É inoportuna a proposta do promotor público estadual Fernando Capez de fazer que a Federação Paulista de Futebol estabeleça que os clássicos entre as equipes de São Paulo tenham somente a presença de torcedores de um dos times a partir de agora.
A medida, segundo Capez, é preventiva e foi motivada pela morte do torcedor são-paulino André Silva Feliciano, 17, no último domingo, após o clássico entre Corinthians e São Paulo, no Morumbi.
É indiscutível que medidas drásticas são necessárias para coibir a violência entre torcidas, dado o aumento recente do número de casos. Todavia a proposta de Capez não responde às necessidades evidenciadas pela trágica morte do torcedor.
Na esfera legal, seria preciso reformar a Constituição brasileira para colocá-la em prática. Afinal, em seu art. 5º, XV, a Carta garante o direito de ir e vir dos cidadãos. Este seria violado se torcedores não pudessem ir ao estádio para assistir a uma partida de seu time ou de outro qualquer.
No campo psicológico, a idéia do promotor paulista é contrária ao que defendem os especialistas em tratamento de massas. Separando torcidas, a Promotoria agravaria a animosidade já existente entre elas, pois, desprovidos da possibilidade de "olhar nos olhos" de seus oponentes, os torcedores tenderiam a demonizá-los ainda mais, estigmatizando-os mesmo sem razão tangível.
Do ponto de vista futebolístico, a separação das torcidas atentaria contra um dos princípios básicos do esporte: a confraternização entre seus participantes, protagonistas ou não. Ademais, o custo financeiro de tal medida poderia minar ainda mais as equipes. Vale lembrar que a média de público deste Campeonato Brasileiro já é uma das mais baixas da história.


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