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TORCIDA ÚNICA
É inoportuna a proposta do
promotor público estadual Fernando Capez de fazer que a Federação Paulista de Futebol estabeleça
que os clássicos entre as equipes de
São Paulo tenham somente a presença de torcedores de um dos times a
partir de agora.
A medida, segundo Capez, é preventiva e foi motivada pela morte do
torcedor são-paulino André Silva Feliciano, 17, no último domingo, após
o clássico entre Corinthians e São
Paulo, no Morumbi.
É indiscutível que medidas drásticas são necessárias para coibir a violência entre torcidas, dado o aumento recente do número de casos. Todavia a proposta de Capez não responde às necessidades evidenciadas
pela trágica morte do torcedor.
Na esfera legal, seria preciso reformar a Constituição brasileira para
colocá-la em prática. Afinal, em seu
art. 5º, XV, a Carta garante o direito
de ir e vir dos cidadãos. Este seria violado se torcedores não pudessem ir
ao estádio para assistir a uma partida
de seu time ou de outro qualquer.
No campo psicológico, a idéia do
promotor paulista é contrária ao que
defendem os especialistas em tratamento de massas. Separando torcidas, a Promotoria agravaria a animosidade já existente entre elas, pois,
desprovidos da possibilidade de
"olhar nos olhos" de seus oponentes, os torcedores tenderiam a demonizá-los ainda mais, estigmatizando-os mesmo sem razão tangível.
Do ponto de vista futebolístico, a
separação das torcidas atentaria contra um dos princípios básicos do esporte: a confraternização entre seus
participantes, protagonistas ou não.
Ademais, o custo financeiro de tal
medida poderia minar ainda mais as
equipes. Vale lembrar que a média de
público deste Campeonato Brasileiro
já é uma das mais baixas da história.
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