|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Marcha pela Amazônia
A Igreja aponta para a Amazônia, que ocupa 42,07% do território nacional e possui a maior floresta e
as maiores reservas de água doce e de
biodiversidade do planeta. Abriga,
também, enorme carência social e religiosa da população local, vítima da
cobiça e da desordenada exploração
dos recursos naturais da região.
Nesta semana, convocados pela
CNBB, reuniram-se em Brasília as
principais entidades da Igreja Católica, incluindo o Cimi, Conselho Indigenista Missionário, as Pontifícias
Obras Missionárias e outras voltadas
para a realidade da Amazônia.
Em abril de 2002, colhendo o fruto
de longo caminho iniciado em 1952, a
40º Assembléia Geral da CNBB reconheceu a prioridade pastoral da Amazônia e constituiu uma comissão de
oito bispos, tendo à frente da comissão dom Jayme Chemello, bispo de
Pelotas (RS) que, durante a sua presidência na CNBB, visitou as regiões do
Norte e do Nordeste, motivando a
Conferência Episcopal a concentrar a
solicitude missionária a serviço da
Amazônia.
Já em 1952, houve o primeiro encontro de bispos preocupados com o futuro da população amazônica. Em
maio de 1972, na cidade de Santarém
(PA), realizou-se ampla convocação
dos bispos da Amazônia, propondo
assumir com maior empenho evangelizador especial atenção às populações
carentes e à inculturação. Vinte e cinco anos mais tarde, em 1997, organizou-se importante semana de estudos
para enfrentar os antigos e os novos
desafios. Constatou-se o grave detrimento causado pelo modelo de ocupação, que privilegiou os grandes projetos de petróleo e de gás, madeireiras
e garimpos, o que acarretou agressão
ao ambiente e à biodiversidade e -o
que é mais grave- agiu com violência
contra os povos indígenas, provocando migrações forçadas, desintegração
da família e expansão do narcotráfico.
Sob o aspecto eclesial, o que impressiona é a desigualdade na atuação
evangelizadora, motivada pela distância, pela precariedade de transporte e
pelo número reduzido de agentes da
pastoral, apesar da generosa e até heróica presença de missionários.
Em 2003, a Assembléia Geral da
CNBB acolheu solenemente o apelo
da Amazônia e firmou o pacto de solidariedade fraterna de todas as dioceses do Brasil em apoio às comunidades do Norte e do Nordeste. Nasceu,
assim, a Marcha pela Amazônia.
Abre-se agora amplo programa que
procura resgatar decênios de lentidão
e de insuficiência no apoio às dioceses
da Amazônia. A Marcha pela Amazônia inclui a cooperação dos vários
agentes -leigos, consagrados e ministros ordenados- e a colaboração e
parceria com outras entidades com o
mesmo ideal. Está lançada a campanha que convoca as universidades e
incentiva o programa Igrejas Irmãs,
que estabelece vínculo de solidariedade entre dioceses e a formação de
agentes.
A insistência, no entanto, está na
mística que deve animar o anúncio
dos valores humanos e cristãos: o zelo
que assegure a presença árdua nos
meios pobres, a inculturação com o
modo de ser próprio da Amazônia, o
estímulo do voluntariado missionário, mantendo sempre a atenção à
ecologia e à preservação do ambiente.
A Igreja reafirma que colocar-se ao lado e a serviço do povo da Amazônia é
cumprir o mandamento de amor do
Senhor Jesus, que veio comunicar vida
plena para todos.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O marinheiro triste Próximo Texto: Frases Índice
|