São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Marcha pela Amazônia

A Igreja aponta para a Amazônia, que ocupa 42,07% do território nacional e possui a maior floresta e as maiores reservas de água doce e de biodiversidade do planeta. Abriga, também, enorme carência social e religiosa da população local, vítima da cobiça e da desordenada exploração dos recursos naturais da região.
Nesta semana, convocados pela CNBB, reuniram-se em Brasília as principais entidades da Igreja Católica, incluindo o Cimi, Conselho Indigenista Missionário, as Pontifícias Obras Missionárias e outras voltadas para a realidade da Amazônia.
Em abril de 2002, colhendo o fruto de longo caminho iniciado em 1952, a 40º Assembléia Geral da CNBB reconheceu a prioridade pastoral da Amazônia e constituiu uma comissão de oito bispos, tendo à frente da comissão dom Jayme Chemello, bispo de Pelotas (RS) que, durante a sua presidência na CNBB, visitou as regiões do Norte e do Nordeste, motivando a Conferência Episcopal a concentrar a solicitude missionária a serviço da Amazônia.
Já em 1952, houve o primeiro encontro de bispos preocupados com o futuro da população amazônica. Em maio de 1972, na cidade de Santarém (PA), realizou-se ampla convocação dos bispos da Amazônia, propondo assumir com maior empenho evangelizador especial atenção às populações carentes e à inculturação. Vinte e cinco anos mais tarde, em 1997, organizou-se importante semana de estudos para enfrentar os antigos e os novos desafios. Constatou-se o grave detrimento causado pelo modelo de ocupação, que privilegiou os grandes projetos de petróleo e de gás, madeireiras e garimpos, o que acarretou agressão ao ambiente e à biodiversidade e -o que é mais grave- agiu com violência contra os povos indígenas, provocando migrações forçadas, desintegração da família e expansão do narcotráfico.
Sob o aspecto eclesial, o que impressiona é a desigualdade na atuação evangelizadora, motivada pela distância, pela precariedade de transporte e pelo número reduzido de agentes da pastoral, apesar da generosa e até heróica presença de missionários.
Em 2003, a Assembléia Geral da CNBB acolheu solenemente o apelo da Amazônia e firmou o pacto de solidariedade fraterna de todas as dioceses do Brasil em apoio às comunidades do Norte e do Nordeste. Nasceu, assim, a Marcha pela Amazônia.
Abre-se agora amplo programa que procura resgatar decênios de lentidão e de insuficiência no apoio às dioceses da Amazônia. A Marcha pela Amazônia inclui a cooperação dos vários agentes -leigos, consagrados e ministros ordenados- e a colaboração e parceria com outras entidades com o mesmo ideal. Está lançada a campanha que convoca as universidades e incentiva o programa Igrejas Irmãs, que estabelece vínculo de solidariedade entre dioceses e a formação de agentes.
A insistência, no entanto, está na mística que deve animar o anúncio dos valores humanos e cristãos: o zelo que assegure a presença árdua nos meios pobres, a inculturação com o modo de ser próprio da Amazônia, o estímulo do voluntariado missionário, mantendo sempre a atenção à ecologia e à preservação do ambiente. A Igreja reafirma que colocar-se ao lado e a serviço do povo da Amazônia é cumprir o mandamento de amor do Senhor Jesus, que veio comunicar vida plena para todos.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O marinheiro triste
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.