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CESAR MAIA
Verdade e ilusão
Em seminário sobre a Argentina -200 anos após a independência-, a deputada
Elisa Carrió conseguiu expor,
em 9 minutos, as mazelas políticas de lá -as mesmas de cá.
Começa afirmando que os
argentinos voltam sempre ao
passado e têm grande dificuldade de assumir os desafios
do futuro. Aqui não é diferente. Kirchner e Lula são personagens do populismo do final
dos anos 40 e início dos 50.
O mesmo desprezo pelas
instituições democráticas, a
mesma afronta à liberdade de
imprensa... Carrió, sobre os líderes populistas, sublinha
que não há monstros e que é o
nosso medo e a nossa inibição
que os criam. E, assim, o primeiro problema da Argentina
"somos nós mesmos".
Temos que ir saindo do fascismo, afirma. "O fascismo é a
incapacidade de pensar. É a
pura ação posta a serviço do
poder". Lembra que o caminho de saída está minado -e
são minas individuais. E há
que ter tranquilidade. Não é
um jogo de quem tem mais força. É um jogo de inteligência,
afirma Carrió.
O que quer Kirchner? Que o
Congresso não funcione. E o
Congresso tem que funcionar.
Depois das eleições parlamentares de junho e da posse em
dezembro de 2009, voltou a
funcionar. Os Tribunais recuperaram autonomia.
Carrió garante que hoje "estamos preparados para assumir uma crise por excesso de
poder". Será que as instituições e os políticos no Brasil estão preparados para isso? Que
Congresso sairá das urnas no
dia 3? Um que funcione ou um
que atue como apêndice do
Executivo? A democracia argentina foi relançada num
momento em que a popularidade do casal Kirchner não ia
tão bem. As eleições de junho
de 2009 equilibraram as forças. Venceram as instituições
democráticas com este equilíbrio relativo. As leis delegadas
não foram prorrogadas.
E Kirchner partiu para intervir na imprensa. Aliás, esse é
sempre o primeiro passo para
o autoritarismo. Alega-se abuso da imprensa e faz-se uma
intervenção. Vide Chávez. Como dizia dom Pedro 2º, reagindo a seus conselheiros: "Contra abusos da imprensa... mais
liberdade de imprensa".
Thomas Jefferson afirmava
que a liberdade de imprensa é
anterior à democracia. Sem essa preliminar não haverá democracia. Por isso, Carrió reafirma que o futuro se constrói
hoje, a cada passo, desarmando cada mina.
E conclui lembrando que,
em política, "o contrário da
verdade não é a mentira, é a
ilusão". E a campanha eleitoral é palco disso, criando um
Estado de bem-estar virtual,
presente e futuro.
Nunca será demais repetir
com Carrió: "Em política, o
contrário da verdade não é a
mentira, é a ilusão." Para
quem queira assistir:
www.youtube.com/watch?v=4Pcq4qNk6-Q
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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