São Paulo, sexta, 25 de setembro de 1998

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Pau, pedra, fim do caminho

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Ao que tudo indica, o último dos anos 90 será inesquecivel. Isto é, se sobrar alguém para se lembrar de alguma coisa.
A se fiar nas previsões dos economistas, estatísticos e videntes em geral, parece que aquelas idéias malucas, segundo as quais com o final do milênio viria o fim do mundo, estavam mesmo corretas. E iremos todos para a chamada cucuia. Será?
Milhares de empresas fechando suas portas, desemprego em massa, hordas de famélicos invadindo as cidades, o país inteiro de pires na mão tentando conseguir um dinheiro aí: esse o quadro mais pessimista pintado pelos mais pessimistas.
Dos otimistas temos a avaliação de que não será o fim, mas, sim, de que tudo vai piorar: desemprego, impostos, recessão, falta de produtos de boa qualidade ou de dinheiro para comprar as melhores mercadorias.
Entre o ruim e o péssimo, ouso imaginar que tudo continuará mais ou menos igual. Como tem sido nos últimos 500 anos.
Quantas vezes o Brasil esteve no fim da picada, à beira da falência, na porta da UTI?
Quanta tragédia foi prevista e deixou de acontecer, desde que o Brasil escapou do domínio português para cair nas mãos de dominadores outros?
Sempre sobrevivemos, certo?
Dos racionamentos no tempo da guerra ao roubo da poupança e da conta corrente de todo mundo no governo Collor, passando pelas incompetências de tantos governos, sempre houve uma saída.
Isso acabará acontecendo.
Se é para ser pessimista mesmo, pode-se concluir que já estamos lá, no fundo do poço, há tempos, nos enganando com o que há de supérfluo na vida. Fome, miséria absoluta, recessão e desemprego, ora, isso já há de sobra, atinge milhões faz muito tempo, mas longe dos nossos olhos e da mídia.
Por isso, entre o pânico possível e o medo do que virá, o melhor a fazer é deixar a vida como está para ver como fica. E que venha o caos.



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