|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TIMIDEZ E CASUÍSMO
O Senado aprovou projeto de lei que
reduz o tempo de propaganda radiotelevisada de que dispunham os partidos menos representativos. Sabe-se
do uso que muitas agremiações ditas
nanicas fazem de seu direito gratuito
de publicidade: a expressão "partido
de aluguel" resume o desvio de finalidade da propaganda política. Candidatos igualmente nanicos não raro
tornam-se marionetes a serviço da difamação de quem concorre de verdade, num péssimo exemplo de malversação do espaço público.
Mas cabe uma palavra de prudência
sobre o objetivo, de resto correto e desejável, de restringir a fragmentação
partidária -e outra de crítica à reforma política aos pequenos bocados
em curso no Congresso.
Disposições restritivas podem tanto barrar aventuras não-representativas como tornar inviável, se excessivas, a expressão de correntes políticas minoritárias ou de agremiações
que estréiam na vida pública. É preciso ter em mente tal risco ao se apreciarem medidas como as cláusulas
de barreira -a exigência de que um
partido eleja um mínimo de congressistas para ter direito à representação
parlamentar. Legendas menores ou
novatas deveriam ter a oportunidade
de testar sua representatividade em
alguns pleitos antes de ser barradas.
São agastantes também o casuísmo
ou a timidez nas emendas à legislação. Miram-se vícios de partidos menores, mas não os de graúdos. Considere-se a leviandade nas filiações,
caso mais vulgar da infidelidade partidária. A cada legislatura muitos parlamentares trocam de partido, conforme a maré da popularidade do governo vai e vem, sem que se perceba o
moto programático de tais andanças.
Tramita um projeto para restringir
coligações, muita vez artifício para
dar sobrevida a partidos ruins de voto. Mas não se trata dos partidos que
funcionam como federações de baixa
disciplina partidária reunidas em torno de personalismos regionais.
Lamente-se, pois, que algum aperfeiçoamento menor da legislação se
dê ao custo de casuísmos e de inércia
em relação às questões centrais da representação parlamentar.
Texto Anterior: Editorial: NEGOCIAR AS METAS Próximo Texto: Editorial: TORRE DE DÚVIDAS
Índice
|