São Paulo, Segunda-feira, 25 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


TORRE DE DÚVIDAS

Maharishi São Paulo Tower foi anunciada, há cinco meses, a megatorre que o empresário Mario Garnero pretende erigir na região central paulistana ganhou mais 16 metros de altura, protocolos de financiamento e papéis atestando andamento e viabilidade do projeto. Mas resta uma torre de dúvidas sobre o destino dessa idéia entre ambiciosa e mirabolante.
Considere-se seu financiamento. Garnero diz que o Maharishi Global Development Fund (MGDF) compromete-se a despender até US$ 1,65 bilhão para tocar o projeto. Mesmo Garnero, no entanto, observa que podem faltar recursos, que seriam obtidos com novos parceiros ou, em última instância, pelo próprio MGDF. Mas, numa obra de tal vulto e risco, a busca de sócios e recursos adicionais pode não ser tão simples assim.
Pode-se argumentar que tais questões são de conta e risco de empresários, mas a construção da torre deve demandar a desapropriação de 600 mil metros quadrados, modificações de ruas e avenidas e integração com o transporte coletivo. Eventual fracasso afetará, portanto, o interesse público.
Empreendedores e técnicos da prefeitura estimam o custo das desapropriações em R$ 220 milhões, mas ele pode ser duas ou três vezes maior, segundo especialistas. Os donos da torre pretendem negociar com os proprietários atingidos. Caso haja impasse, porém, a prefeitura faria desapropriações e seria reembolsada. Parece, pois, um cenário propício a pendências judiciais ou até a complexas transações, por assim dizer.
Registre-se ainda certa precipitação no planejamento da construção. Pretende-se iniciar a obra no começo de 2000, mas mal se sabe como serão solucionadas questões como impacto no trânsito e no transporte público. É difícil crer que as soluções estejam prontas até a virada do ano.
A prefeitura quase já avaliza o projeto, que deverá ser apreciado por uma Câmara Municipal impopular. Há precipitação e dúvidas sobre a viabilidade financeira e urbanística do projeto. Tendo em vista que São Paulo já sofreu tantos desastres de planejamento urbano, talvez fosse melhor, no mínimo, ir devagar com o andor.


Texto Anterior: Editorial: TIMIDEZ E CASUÍSMO
Próximo Texto: São Paulo - Josias de Souza: Em defesa da USP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.