São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2001

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PAZ NA IRLANDA

É histórica a deposição de armas anunciada pelo Exército Republicano Irlandês (IRA). O grupo terrorista católico, que luta pela independência da Irlanda do Norte do Reino Unido, aceitou o desarmamento diante da ameaça de o processo de paz entrar em colapso.
É possível que o momento internacional tenha contribuído, mas a deposição das armas se inscreve no quadro mais restrito do Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa, assinado em abril de 98 e aprovado em referendo tanto pela Irlanda do Norte como pela República da Irlanda.
Pelo que foi então acertado, a Irlanda do Norte ganharia maior autonomia política, inclusive com a constituição de um Parlamento local, presos políticos seriam libertados e, em troca, o IRA entregaria suas armas.
Nos últimos tempos, contudo, os combatentes católicos vinham se recusando a cumprir a sua parte, alegando que a entrega das armas equivaleria à capitulação. Em julho, o ex-premiê David Trimble (protestante, que comandava precário governo de coalizão com católicos) renunciou devido à recusa do IRA em seguir com a implementação do acordo de 1998. Foi para salvar o que restava da coalizão que o IRA finalmente optou pela deposição das armas.
Obviamente não existem receitas ou fórmulas prontas para acabar com o terrorismo. Mesmo o hoje promissor processo de paz na Irlanda ainda deverá atravessar percalços. Membros do IRA sempre poderão voltar a comprar armas. Fica, contudo, a constatação de que esforços consistentes para alcançar a paz passam por reconhecer os problemas que levaram ao surgimento do grupo terrorista e por tentar encontrar soluções políticas para a questão.
Sem prejuízo do imperativo de capturar e julgar os responsáveis por crimes hediondos, o diálogo e a negociação ainda são recursos efetivos para combater as causas que ensejam os chamados conflitos assimétricos.


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