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BOM PARA A SAÚDE
Com direito a uma "performance" feita sob encomenda
para as câmeras da mídia, uma frente
de parlamentares vestidos com trajes
médicos no Congresso exerceu a necessária pressão para que o governo
federal recuasse da idéia de retirar R$
3,5 bilhões das verbas da saúde para
destinar a programas sociais de renda mínima. Contribuiu ainda mais
para o recuo o alerta endereçado ao
Planalto pelo procurador-geral da
República, Cláudio Fonteles, recomendando que a proposta orçamentária para 2004 fosse alterada, pois a
decisão seria inconstitucional.
O argumento do governo para
transferir para o Bolsa-Família dinheiro da saúde é que investimentos
em combate à fome poderiam ser caracterizados como ações de "medicina preventiva". Eles serviriam para
evitar a futura ocorrência de problemas decorrentes da desnutrição, desonerando, assim, a rede pública.
Trata-se de um falso bom argumento. Embora seja inegável que o
combate à fome, da mesma forma
que o saneamento, efetivamente repercuta sobre a qualidade da saúde
pública, a emenda que prevê a vinculação dos gastos tem como objetivo
elevar as verbas destinadas especificamente àquela área.
Embora o conselho de Fonteles
não tenha, em si, força jurídica, ele
parece ter funcionado como um sinal enfático de que o governo estaria
correndo o risco de sério desgaste caso insistisse no expediente de deslocar parte dos recursos da saúde para
o combate à fome.
Certamente o princípio da vinculação gera constrangimentos para os
governantes, que perdem parte de
sua autonomia. Ele tem, contudo, a
virtude de assegurar que uma área de
importância crucial, ainda submetida a graves problemas e carências,
não fique à mercê de conveniências
políticas para contar com os recursos de que necessita.
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