RIO DE JANEIRO - Leitor de Niterói ficou irritado com as homenagens prestadas a João Paulo 2º por ocasião do seu jubileu de prata, celebrado neste mês pela mídia de todo o mundo. Mandou-me um e-mail definitivo, dizendo que o papa é um assassino em massa, uma vez que está contribuindo para o nascimento de milhões de desgraçados com a sua atitude conservadora, condenando o aborto e outras práticas que, a seu ver, aumentam a densidade demográfica nos países mais miseráveis.
Não me consta que o papa tenha qualquer poder temporal nos países, miseráveis ou não. A condenação do aborto não é invenção sua, está ligada a uma raiz mais cultural do que religiosa. Condenando a prática do aborto, considerando-a uma violação ao quinto mandamento da lei mosaica, que continua sendo o código moral do Ocidente, o papa -este ou qualquer outro que venha a sucedê-lo- defende um princípio entranhado na consciência do homem.
É evidente que esses princípios são e serão continuamente violados -mata-se, rouba-se, deseja-se a mulher do próximo, levanta-se falso testemunho, a carne é fraca e fraco é o poder de quem quer que seja para impedir aquele legado da miséria humana de que falava Brás Cubas.
Lembrei um personagem da ficção nacional e lembrarei outro, de Victor Hugo, que roubou um pão porque estava morrendo de fome e iniciou uma saga de miseráveis. Caso a caso, podemos compreender a urgência do homem faminto e da mulher solitária que não pode sustentar um filho indesejado.
Nem por isso a lei moral deve ser revogada. E, quando falo em lei moral, não me refiro à ética que hoje todo mundo invoca, de boca cheia e indignado. Lei moral é um conjunto de princípios imutáveis que transcendem às circunstâncias e às conveniências. Voluntária ou involuntariamente, praticamos o mal, mas o mal será sempre um mal, seu uso e abuso não o torna um bem.


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