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Palco vazio
Especulações em torno de candidatura Ciro Gomes revelam escassez de nomes representativos na sucessão estadual
TORNOU-SE corriqueiro dizer que a política, no Brasil, gira mais em torno de
personalidades do que de
propostas, mais em torno de indivíduos que de partidos. Na verdade, o fenômeno tende a reproduzir-se em diversas democracias do mundo: as tradicionais
divisões ideológicas esmaecem, e
a influência da chamada cultura
das celebridades há tempo se faz
sentir sobre o cenário político.
Figuras como Marina Silva, Ciro Gomes, Dilma Rousseff ou José Serra, sem dúvida, ostentam
características pessoais marcantes, a serem evidentemente trabalhadas pelos técnicos em marketing político à medida que se
aproximam as eleições de 2010.
Correspondendo a diferentes
graus de proximidade ou de rejeição em relação ao governo Lula, ainda assim apresentam, de
uma perspectiva doutrinária
mais ampla, razoáveis pontos em
comum.
Mais do que discordâncias programáticas expressivas, as atitudes do lulismo e do antilulismo
terminam constituindo, por enquanto, os fatores determinantes, para não dizer exclusivos, a
definir as opções do eleitorado
expressas nas pesquisas. Os nomes para a sucessão se situam,
basicamente, diante desse divisor de águas.
Se o debate presidencial já parece, nessas circunstâncias, bastante empobrecido, bem mais
desolador é o quadro da sucessão
paulista. No estágio em que se
encontra, chama a atenção pela
virtual ausência de polarização
política e de nomes que a incorporem com expressividade.
Não é por acaso, assim, que
prosperam as especulações a
respeito de uma possível candidatura de Ciro Gomes ao governo estadual. Ironicamente, o ex-governador do Ceará, ex-ministro de FHC e ex-tucano viria a
ser, pelo PSB, o representante
das forças que apoiam Lula no
Estado que deu origem ao Partido dos Trabalhadores.
Não se trata aqui de avaliar as
qualidades e os defeitos do eventual candidato. O que se destaca
nessa possível postulação, antes
de tudo, é o que sinaliza a respeito do esvaziamento do PT no cenário paulista. Não por acaso, setores do partido resistem à hipótese de vê-lo, pela primeira vez
em décadas, sem candidato próprio às eleições estaduais.
Desde a crise do mensalão, corroeu-se o prestígio das principais
lideranças do Estado -e nomes
como o do prefeito de Osasco,
Emidio de Souza, e do presidente
do PT paulista, Edinho Silva, são
os que emergem do naufrágio.
Do lado tucano, persistem os
altos índices de popularidade de
Geraldo Alckmin, figura entretanto ilhada entre as engrenagens do serrismo. As quais, por
sua vez, paralisam-se enquanto o
atual governador não assume a
candidatura à sucessão de Lula;
guarda-se, ainda que improvável,
a alternativa da reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.
Ciro Gomes e José Serra
aguardam, de qualquer modo,
maiores definições no plano nacional antes de moverem-se no
cenário do Estado -no qual, entre a memória eleitoral de Alckmin e o vazio de novas lideranças, as opções do eleitor se ressentem de uma inédita aridez.
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