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O NÓ ELÉTRICO
A notícia de que Luiz Inácio
Lula da Silva estava negociando
com o PMDB o Ministério de Minas e
Energia era motivo de preocupação.
Afinal, um dos aspectos que revelaram a desídia do governo Fernando
Henrique Cardoso na questão energética foi justamente a sua disposição de tratar esse ministério como
"cota política". Agora as circunstâncias acabaram levando uma técnica
com histórico de esquerda a comandar essa pasta.
Dilma Roussef, que foi secretária
de Energia do governador Olívio Dutra (PT-RS), chefiará o ministério
também contingencialmente mais
importante da área de infra-estrutura. As causas da crise que produziu
seis meses de racionamento energético no ano passado -e que subtraiu
do crescimento da economia, segundo alguns analistas, cerca de 2% do
PIB- ainda não foram atacadas pela
administração pública.
O racionamento foi apenas um paliativo. Mas um paliativo que, além
de ter sacrificado empresas e consumidores, adicionou complicadores à
equação anterior. Coroou o processo
de degeneração setorial a desvalorização abrupta e radical do real neste
ano, que fez crescer os passivos dolarizados principalmente de distribuidoras privatizadas, diminuir a disposição dos credores externos de rolar
dívidas e aumentar a carga potencial
de repasse de custos ao consumidor.
O equacionamento de uma solução
propriamente dita para a crise energética não estará restrito à pasta de
Roussef. Também farão parte desse
esforço a Aneel, agência reguladora
do setor, o BNDES e a área macroeconômica do governo. Será preciso,
por exemplo, convencer o Bird a financiar projetos em hidreletricidade
e o FMI a descontar do cálculo do déficit público investimentos de estatais na ampliação da oferta e das redes de distribuição de energia.
Temas de curto prazo dominam as
atenções no setor. Mas as autoridades do futuro governo precisam ter
claro que a prioridade é aumentar a
oferta e melhorar a distribuição de
eletricidade. Esse é o imperativo ao
qual terão de submeter-se todas as
outras questões. O Brasil não precisa
e não pode passar por outra crise como a do segundo semestre de 2001.
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