São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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O NÓ ELÉTRICO

A notícia de que Luiz Inácio Lula da Silva estava negociando com o PMDB o Ministério de Minas e Energia era motivo de preocupação. Afinal, um dos aspectos que revelaram a desídia do governo Fernando Henrique Cardoso na questão energética foi justamente a sua disposição de tratar esse ministério como "cota política". Agora as circunstâncias acabaram levando uma técnica com histórico de esquerda a comandar essa pasta.
Dilma Roussef, que foi secretária de Energia do governador Olívio Dutra (PT-RS), chefiará o ministério também contingencialmente mais importante da área de infra-estrutura. As causas da crise que produziu seis meses de racionamento energético no ano passado -e que subtraiu do crescimento da economia, segundo alguns analistas, cerca de 2% do PIB- ainda não foram atacadas pela administração pública.
O racionamento foi apenas um paliativo. Mas um paliativo que, além de ter sacrificado empresas e consumidores, adicionou complicadores à equação anterior. Coroou o processo de degeneração setorial a desvalorização abrupta e radical do real neste ano, que fez crescer os passivos dolarizados principalmente de distribuidoras privatizadas, diminuir a disposição dos credores externos de rolar dívidas e aumentar a carga potencial de repasse de custos ao consumidor.
O equacionamento de uma solução propriamente dita para a crise energética não estará restrito à pasta de Roussef. Também farão parte desse esforço a Aneel, agência reguladora do setor, o BNDES e a área macroeconômica do governo. Será preciso, por exemplo, convencer o Bird a financiar projetos em hidreletricidade e o FMI a descontar do cálculo do déficit público investimentos de estatais na ampliação da oferta e das redes de distribuição de energia.
Temas de curto prazo dominam as atenções no setor. Mas as autoridades do futuro governo precisam ter claro que a prioridade é aumentar a oferta e melhorar a distribuição de eletricidade. Esse é o imperativo ao qual terão de submeter-se todas as outras questões. O Brasil não precisa e não pode passar por outra crise como a do segundo semestre de 2001.


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