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O GÊNERO DA MUDANÇA
Um período de dez anos não
costuma ser suficiente para
que se percebam grandes mudanças
em instituições tradicionais como o
casamento. Pesquisa do IBGE nos
registros civis brasileiros, no entanto, constatou que a taxa de casamentos em "papel passado", que era de
7,5 para cada mil habitantes em 1991,
caiu para 5,7 em 2001. Trata-se de
uma diminuição da ordem de 25%.
Bastante acentuada, portanto.
Existe um viés regional nesse resultado. No Nordeste e no Norte, a taxa
de casamentos por milhar de habitantes, em 2001, era bem menor (4,9)
do que a verificada no Sudeste (6,7).
O custo de casar em cartório é um
obstáculo para a oficialização de relacionamentos nas áreas pobres.
Mas o elemento regional de renda é
insuficiente para explicar a tendência
geral de queda nos matrimônios em
cartório. Parece ter mudado a própria concepção do casamento. Tal
intuição se reforça quando se verifica
que outras duas transformações foram apuradas pelo IBGE no período:
a idade média com que as pessoas se
casam e a duração média do casamento aumentaram.
Estão cada vez mais disseminados
no Brasil os casamentos sem registro
em cartório. Pode ser que esteja em
formação uma nova "tipologia" do
casamento. Parceiros vivem juntos
-um relacionamento íntimo que
pode ser mais facilmente desfeito-
até que estejam definidas questões
como renda, emprego e carreira.
Após a conquista de uma relativa estabilidade, parte-se para um formato
de casamento mais duradouro, registrado em cartório.
Essa é apenas uma das hipóteses
possíveis para explicar a mudança no
casamento. O que parece inconteste
é que um dos principais operadores
dessa transformação é o comportamento da mulher, que cada vez mais
enfatiza sua carreira, posterga a maternidade e tem menos filhos. É uma
pequena revolução que já está subvertendo a tradicional estrutura patriarcal de poder da família brasileira, mas num ritmo mais lento do que
o verificado na diminuição dos casamentos registrados em cartório.
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