São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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O GÊNERO DA MUDANÇA

Um período de dez anos não costuma ser suficiente para que se percebam grandes mudanças em instituições tradicionais como o casamento. Pesquisa do IBGE nos registros civis brasileiros, no entanto, constatou que a taxa de casamentos em "papel passado", que era de 7,5 para cada mil habitantes em 1991, caiu para 5,7 em 2001. Trata-se de uma diminuição da ordem de 25%. Bastante acentuada, portanto.
Existe um viés regional nesse resultado. No Nordeste e no Norte, a taxa de casamentos por milhar de habitantes, em 2001, era bem menor (4,9) do que a verificada no Sudeste (6,7). O custo de casar em cartório é um obstáculo para a oficialização de relacionamentos nas áreas pobres.
Mas o elemento regional de renda é insuficiente para explicar a tendência geral de queda nos matrimônios em cartório. Parece ter mudado a própria concepção do casamento. Tal intuição se reforça quando se verifica que outras duas transformações foram apuradas pelo IBGE no período: a idade média com que as pessoas se casam e a duração média do casamento aumentaram.
Estão cada vez mais disseminados no Brasil os casamentos sem registro em cartório. Pode ser que esteja em formação uma nova "tipologia" do casamento. Parceiros vivem juntos -um relacionamento íntimo que pode ser mais facilmente desfeito- até que estejam definidas questões como renda, emprego e carreira. Após a conquista de uma relativa estabilidade, parte-se para um formato de casamento mais duradouro, registrado em cartório.
Essa é apenas uma das hipóteses possíveis para explicar a mudança no casamento. O que parece inconteste é que um dos principais operadores dessa transformação é o comportamento da mulher, que cada vez mais enfatiza sua carreira, posterga a maternidade e tem menos filhos. É uma pequena revolução que já está subvertendo a tradicional estrutura patriarcal de poder da família brasileira, mas num ritmo mais lento do que o verificado na diminuição dos casamentos registrados em cartório.


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