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ANTONIO DELFIM NETTO
Natal: entregando o prometido
Na semana passada, os brasileiros foram agradavelmente surpreendidos por três definições importantes feitas pelo governo que se instalará no dia 1º de janeiro. O presidente
eleito, Lula, afirmou que 2003 será um
ano de "aperto fiscal", com "cortes de
despesas". Revelou uma intuição que
a "ciência dos PhD's" não foi capaz de
ver nos seus sofisticados modelos: a
alternativa à alta de juros no combate
à inflação (que corta a demanda do setor privado, aumenta o desemprego e
empobrece o país) é o corte das despesas públicas (que reduz a demanda do
governo).
Para realizar essa façanha, ao contrário de FHC, que preferiu elevar a
carga tributária bruta de 27% para
35% do PIB com impostos da pior
qualidade, o presidente eleito, Lula,
deveria propor imediatamente ao
Congresso a completa supressão dos
impostos vinculados, juntamente
com um dispositivo que torne o Orçamento de execução obrigatória. Disso
resultarão duas coisas importantes:
1) obterá maior flexibilização para o
corte das despesas; e 2) provará que
não irá submeter o Legislativo à ignomínia do controle do Executivo por
conta das emendas parlamentares.
O futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reafirmou que vamos
continuar com um sistema de câmbio
flutuante (que o governo não tem a
pretensão de controlar porque sabe
que é impossível), com um sistema de
metas inflacionárias (realistas e que
empenharão, inexoravelmente, o governo) e que vamos produzir o superávit dívida líquida/PIB, não na "boca
do caixa", que transfere o problema,
mas através de cortes efetivos combinados com o ministro do Planejamento. É, assim, uma grande incompreensão afirmar que o novo programa é
simplesmente a "continuação" da política do poder incumbente que se despede...
Finalmente, tivemos o depoimento
na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado do futuro presidente do
Banco Central, senhor Henrique Meirelles, injustamente criticado pelo famoso "mercado" (que não tem sobrenome) por não ser um "operador de
mesa". Ora, o que o presidente do BC
precisa ser é apenas um administrador capaz de coordenar um grupo de
sólidos especialistas (inclusive na famosa "mesa"), assessorado por uma
forte e competente equipe técnica. O
senhor Armínio Fraga foi exatamente
isso. Na minha opinião, ele saiu-se relativamente bem diante do pavoroso
quadro de choques de oferta adversos
que enfrentou a partir da barbeiragem
energética nacional e da deterioração
da situação financeira internacional
de 2001.
A boa notícia trazida pelo senhor
Meirelles é que o governo Lula proporá a autonomia do Banco Central para
que ele opere seu único instrumento, a
taxa de juros nominal de curto prazo,
para obter o precioso bem público que
é a estabilidade do valor da moeda. Esta, que foi a marca da octaetéride fernandista, está se deteriorando no seu
final. O Brasil terá suas "metas inflacionárias" definidas pelo governo e
deverão ser atingidas pelo Banco Central. Os seus diretores terão mandato
fixo condicionado à cláusula de sucesso, como ocorre em qualquer país civilizado.
Se o "companheiro" Lula continuar
como até agora, cumprindo o que
prometeu durante a campanha eleitoral, teremos na Presidência um verdadeiro estadista!
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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