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ANTÔNIO GOIS
Paranóia urbana
RIO DE JANEIRO - O fato aconteceu na sexta-feira passada, na Urca,
bairro considerado um dos mais seguros do Rio de Janeiro.
Pela manhã, ao perceber que seu telefone fixo estava com defeito, uma
senhora de idade ligou para sua prestadora de serviços telefônicos para
solicitar conserto.
No mesmo dia, logo após o horário
de almoço, o técnico de uma empresa
terceirizada chegou ao local. Tocou a
campainha, checou endereço e telefone, identificou-se e pediu permissão
para subir.
A rapidez do atendimento, no entanto, causou desconfiança na senhora. Assustada com histórias de
assaltos recentes no bairro e acostumada com a típica demora no atendimento de reclamações da empresa,
ela decidiu que o técnico não poderia
subir ao apartamento. Teria que consertar o defeito da rua mesmo.
Meio a contragosto, ele tentou resolver o problema mexendo apenas
na caixa de telefone do edifício. Não
conseguiu. "A senhora me desculpe,
mas terei de entrar no apartamento",
disse ele.
Nada feito. Não havia argumento,
uniforme, crachá ou identidade que
a fizesse acreditar que se tratava de
um técnico que, rapidamente, estava
ali apenas para resolver o problema
de sua linha telefônica.
O diálogo entre os dois foi ficando
cada vez mais ríspido. Ele, irritado
com a desconfiança, ameaçava ir
embora sem resolver o problema. Ela,
assustada com a rapidez, relutava
em abrir a porta de seu apartamento.
Até que ele entregou os pontos: "A
senhora então ligue para a empresa,
solicite novamente o conserto da linha, mas, dessa vez, peça que o técnico demore pelo menos três dias para
chegar aqui."
Finalmente, após desejos mútuos
-certamente não muitos sinceros -
de "feliz Natal", os dois se despediram. Ele foi embora sem fazer seu serviço. Ela, embora aliviada, continuou com a linha quebrada.
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