São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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ANTÔNIO GOIS

Paranóia urbana

RIO DE JANEIRO - O fato aconteceu na sexta-feira passada, na Urca, bairro considerado um dos mais seguros do Rio de Janeiro.
Pela manhã, ao perceber que seu telefone fixo estava com defeito, uma senhora de idade ligou para sua prestadora de serviços telefônicos para solicitar conserto.
No mesmo dia, logo após o horário de almoço, o técnico de uma empresa terceirizada chegou ao local. Tocou a campainha, checou endereço e telefone, identificou-se e pediu permissão para subir.
A rapidez do atendimento, no entanto, causou desconfiança na senhora. Assustada com histórias de assaltos recentes no bairro e acostumada com a típica demora no atendimento de reclamações da empresa, ela decidiu que o técnico não poderia subir ao apartamento. Teria que consertar o defeito da rua mesmo.
Meio a contragosto, ele tentou resolver o problema mexendo apenas na caixa de telefone do edifício. Não conseguiu. "A senhora me desculpe, mas terei de entrar no apartamento", disse ele.
Nada feito. Não havia argumento, uniforme, crachá ou identidade que a fizesse acreditar que se tratava de um técnico que, rapidamente, estava ali apenas para resolver o problema de sua linha telefônica.
O diálogo entre os dois foi ficando cada vez mais ríspido. Ele, irritado com a desconfiança, ameaçava ir embora sem resolver o problema. Ela, assustada com a rapidez, relutava em abrir a porta de seu apartamento.
Até que ele entregou os pontos: "A senhora então ligue para a empresa, solicite novamente o conserto da linha, mas, dessa vez, peça que o técnico demore pelo menos três dias para chegar aqui."
Finalmente, após desejos mútuos -certamente não muitos sinceros - de "feliz Natal", os dois se despediram. Ele foi embora sem fazer seu serviço. Ela, embora aliviada, continuou com a linha quebrada.


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