São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Natal com esperança renovada

CLÁUDIO HUMMES

O nascimento de uma criança sempre constitui um evento maravilhoso e feliz. Representa um grito de vitória da vida, um hino ao amor de Deus, Pai e Criador. Toda a vez em que nasce um ser humano, trata-se do nascimento de um ser inteligente e livre, constituído de corpo e espírito, imagem de Deus, chamado a ser filho de Deus e herdeiro do céu.
Quanto maior não terá sido o júbilo, a maravilha divina, o milagre incomparável, a alegria na Terra e no céu, o grito de louvor a Deus, o canto dos anjos no céu, a ternura de toda a criação, quando nasceu Jesus em Belém de Judá, na Palestina da época, há cerca de 2.000 anos.
Ele era o filho amado, eterno e único de Deus, que se fez homem e nasceu da Virgem Maria. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem! Os anjos cantaram na noite de Belém, diante dos pastores: "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra aos homens de boa vontade" (ou, conforme outra tradução, "aos homens por Ele amados").
O Natal nos prova o amor sem medida de Deus por nós. Ele nos ama a ponto de dar seu filho único para ser nosso salvador, salvação essa que passaria pela ignominiosa morte na cruz e, depois, pela gloriosa ressurreição dos mortos. Deus nos dá seu filho e este nos ama a ponto de dar sua vida por nós.
O Natal é o princípio desses acontecimentos históricos do amor forte, concreto e salvador de Jesus pela humanidade. Amando-nos assim, ele nos deu seu mandamento: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por aqueles que ama" (Jo; 15, 12-13). "Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros" (Jo; 13, 35).
O cristianismo tem origem no amor de Deus por nós e sua lei fundamental é o amor que devemos ter uns pelos outros. O amor está no centro da fé cristã, no centro de nossas relações com Deus e entre nós. Assim sendo, a fé cristã e sua prática são fatores profundos de humanização, de construção da dignidade humana e da convivência pacífica entre os homens, bem como constituem-se no verdadeiro caminho de libertação integral do ser humano e de sua salvação transcendente junto a Deus.


Deus é sempre fiel em fazer sua parte. Façamos a nossa parte, não deixando tudo aos governantes


O amor! Não existe nada maior. Deus é amor e nos ama acima de qualquer compreensão. Ele não nos quer perder, porque nos ama. O caminho que ele nos indica é o amor a Ele, como a um pai, e aos demais seres humanos, como irmãos. E, se somos irmãos, devemos ter um amor e uma atenção especiais pelos que, entre nós, são mais sofridos, humilhados, excluídos, pobres, relegados a condições desumanas.
O Natal deste ano celebra-se num clima nacional de expectativas positivas, de esperanças renovadas, no sentido de uma nova e grande oportunidade de o país dar passos em frente no resgate social da nossa gente mais pobre e excluída do acesso suficiente aos bens materiais, espirituais e culturais.
A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos governadores, bem como dos senadores, deputados federais e estaduais, está na origem dessas renovadas esperanças. Concretizá-las será o grande desafio. Deus é sempre fiel em fazer sua parte. Façamos a nossa parte, unidos e co-responsáveis, não deixando tudo aos governantes.
Nossa Arquidiocese de São Paulo, procurando dar sua contribuição ao resgate dos que vivem na pobreza, no desemprego, na miséria, está realizando desde o ano 2000, em conjunto com as demais dioceses que ocupam o território do município de São Paulo, o Seminário da Caridade, que se constitui numa revisão da presença e atuação dos católicos no meio da pobreza de nossa cidade, bem como numa concretização de novas iniciativas.
Entre essas destaco como iniciativas recentes da arquidiocese a "Feira de Quem Faz", onde os desempregados, que fabricam produtos de qualidade, podem oferecer seus produtos ao mercado, e o "Centro Arquidiocesano do Trabalhador", que pretende, por meio de postos de atendimento na periferia, receber, cadastrar e encaminhar desempregados a um novo emprego. Ambas as iniciativas também oferecem cursos de treinamento para abrir pequeno negócio próprio.

Dom Cláudio Hummes, 68, é cardeal-arcebispo metropolitano de São Paulo. Foi arcebispo de Fortaleza (CE) e bispo de Santo André (SP).


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