São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

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Geografia da sede

O "ATLAS Nordeste" compilado pela Agência Nacional de Águas (ANA) traça uma rota acidentada para a população do Semi-Árido e entorno até 2025. A dificuldade da jornada se mede pelos números e investimentos projetados: R$ 3,6 bilhões, necessários para deslanchar a pletora de 546 obras.
Sem esse dispêndio, em duas décadas 70% das cidades no norte de Minas Gerais e na região Nordeste enfrentarão crise no abastecimento para consumo humano. No cálculo do Atlas, 41 milhões de pessoas serão afetadas pela insegurança hídrica.
A pior situação se aguarda para Pernambuco, onde seriam imprescindíveis obras no montante de R$ 1,4 bilhão. Tal soma viria sanar toda sorte de deficiências, de mananciais insuficientes a sistemas de abastecimento subdimensionados. Predomina a precariedade na infra-estrutura de distribuição, não tanto de fontes de água: 52,8% dos municípios enfrentariam quadros críticos por dificuldade de fazer o líquido chegar a quem precisa, e menos por carecer dele.
Cabe assinalar que o estudo não entra no mérito do projeto dileto da administração Lula, a transposição do rio São Francisco -primeiro manancial da região. Orçada em R$ 4,5 bilhões, a chamada integração de bacias aumentaria a disponibilidade hídrica em várias sub-regiões, mas tem mais potencial para suprir a demanda de irrigação.
A soma total, de mais de R$ 8 bilhões, dá a dimensão titânica do desafio por enfrentar nos três níveis de administração, municipal, estadual e federal. Com a ínfima capacidade de investimento do setor estatal no presente e no futuro previsível, corroída pela escalada de gastos de manutenção do governo em todas as esferas, o compêndio da ANA se afigura mais como geografia da sede anunciada do que recurso de planejamento estratégico.


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