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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Luzes de Natal
SÃO PAULO - A cidade está bastante iluminada desde o início do
mês. Há luzes de vários tipos, decorações para todos os gostos, mas,
pelo menos nos bairros mais afortunados, onde mora a classe média
rica, as calçadas estão tomadas pelas luzinhas brancas que envolvem
os troncos das árvores. São lampadinhas "made in China", que já há
muitos anos enfeitam nosso Natal.
Elas inundam as ruas, que à noite
parecem apaziguadas e acolhedoras, nos lançando numa atmosfera
de irrealidade. Mas a palavra que
não me sai da cabeça é "trégua".
A cidade iluminada refletiria um
desejo de suspender alguma guerra
disseminada e sem fim. Uma ideia
meio besta então me ocorre: e se
deixássemos a cidade assim o ano
inteiro? Sim, foi só um devaneio...
A sensação de trégua, na verdade,
mal consegue se sustentar ao longo
do mês. Conforme passam os dias, o
encantamento vai se misturando ao
que há de mecânico e opressivo nos
preparativos natalinos. Não é apenas a gincana de caça aos presentes,
não são apenas as maratonas gastronômicas, as bebedeiras da "firma", o trânsito ou o calor infernais.
O que oprime, antes deste corre-corre frenético, é a ideia mesma de
uma bondade compulsória, a esperança impositiva, o pastiche da harmonia que o Natal com suas ruas
iluminadas afinal nos anuncia.
Quando chega enfim a festa, as
luzinhas chinesas já não parecem
estar ali para sinalizar uma trégua
possível, mas, antes, para nos fazer
companhia, confortando a tristeza
que invariavelmente nos visita.
Tudo isso é muito subjetivo e talvez represente apenas um desvio do
que deva ser o verdadeiro espírito
natalino. Mas hoje, 25, veja se já não
experimentamos uma certa ressaca
do longo ritual em que negociamos
promessas de felicidade.
Olhemos as luzinhas mais uma
vez. Talvez elas nos digam apenas
que a cidade não pode ser assim
sempre, como nós não conseguimos ser bons o ano inteiro -nem
melhores do que nós mesmos.
Um brinde à vida. E Feliz Natal!
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