São Paulo, sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

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VALDO CRUZ

Peso e contrapeso

BRASÍLIA - O essencial da política econômica não é a autonomia do Banco Central, mas o desenvolvimentismo. A definição é do ministro Guido Mantega (Fazenda). Compartilhada, segundo ele, pelos dois principais candidatos à sucessão de Lula: Dilma e Serra.
Saia da Esplanada dos Ministérios e siga direto para o Banco Central. Lá, outro assessor do presidente Lula dirá o contrário. Henrique Meirelles agradece ao chefe pela autonomia informal do BC e gostaria de, no futuro, vê-la formalizada oficialmente.
Essa foi a marca do segundo mandato do presidente Lula. Dois polos antagônicos, em constante fricção, medindo forças pelo rumo da política econômica. Às vezes nos bastidores. Outras, publicamente.
O ponto de equilíbrio desse conflito residiu no Palácio do Planalto. Acabou gerando uma administração bem-sucedida da crise econômica -que, tudo indica, manteve as portas abertas para o crescimento. Não completamente a contento, mas manteve.
Dependesse do grupo desenvolvimentista de seu governo, Lula teria defenestrado Meirelles antes mesmo de iniciar o segundo mandato. Dependesse só do presidente do BC, muitas das medidas de estímulo à economia teriam ficado apenas na cabeça de Mantega.
A dúvida é se esse ponto de equilíbrio, de administração de conflitos, existirá no futuro governo. No de FHC, não prevaleceu. A turma desenvolvimentista foi derrotada e banida da equipe. A busca da estabilidade -que foi um mérito- moldou a face do então governo.
Serra e Dilma têm, todos sabem, visões semelhantes sobre economia. Meirelles não seria, jamais, o presidente do BC dos dois. A depender apenas da vontade deles, o comandante da política monetária será um mero teleguiado.
No sistema de peso e contrapeso, o resultado dessa equação tende a ser negativo. Mas como as visões mudam depois de o candidato assumir a cadeira presidencial, a conferir. Lula que o diga.


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