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GUERRA INSENSATA
Todas as guerras têm algo de
insensato, mas a provável ação
militar dos EUA contra o Iraque parece ultrapassar vários outros conflitos no que diz respeito a esse quesito.
A ação contra o Iraque se inscreve
no quadro mais amplo da guerra
contra o terrorismo, deflagrada depois dos atentados de 11 de setembro
de 2001. O problema é que não existe
nenhum indício ligando o regime de
Bagdá à rede terrorista Al Qaeda, de
Osama bin Laden. A chamada guerra
contra o terrorismo pode ser qualificada como uma movimentação defensiva legítima dos EUA, mas, para
permanecer legítima, precisa ser dirigida contra os verdadeiros responsáveis pelo 11 de setembro, e não
contra qualquer povo que fale árabe e
tenha desavenças com Washington.
A questão das armas de destruição
em massa, à qual a Casa Branca tem
dado ênfase, também parece pouco
sólida. Os inspetores de armas da
ONU ainda não anunciaram ter encontrado provas cabais de que o Iraque mantenha programas para construir armas químicas, biológicas ou
nucleares, o que representaria uma
violação ao armistício de 1991, após a
Guerra do Golfo, quando Bagdá se
comprometeu a eliminar esse tipo de
armamento. Os inspetores pedem
mais tempo para realizar seu trabalho. Parece um completo despropósito não lhes conceder esse tempo.
Se a causa levantada pelos EUA é justa, Washington pode perfeitamente
esperar mais alguns meses.
Na verdade, nenhum analista militar mais sério considera que Saddam
Hussein represente uma ameaça
iminente. Desde a derrota na Guerra
do Golfo, o ditador iraquiano procura manter-se com um perfil discreto.
Ele sabe que os EUA, cujas tropas
nunca abandonaram o golfo Pérsico,
precisam apenas de um pretexto para escorraçá-lo do poder e não parece
muito disposto a fornecê-lo.
É claro que Saddam é um ditador
cruel e que sua queda seria muito
bem-vinda, mas o fato de ele ser um
tirano não pode constituir um "casus
belli", que justifique sua deposição
por um governo estrangeiro. Existem várias dezenas de ditadores
atuantes no mundo. Se toda ação bélica visando a removê-los for considerada legítima e legal, pode-se dar
adeus à idéia de direito internacional.
Seria, contudo, uma tolice acreditar
que Bush vai à guerra sem razões para tanto. O problema é que seus motivos não são exatamente "confessáveis". O Iraque possui gigantescas
reservas de petróleo que são particularmente tentadoras num momento
em que os EUA parecem dispostos a
reduzir sua dependência da Arábia
Saudita. Mais do que isso, ao lançar-se numa expedição bélica mesmo
contra a opinião de aliados tão importantes como França e Alemanha,
Bush sinaliza para o mundo que os
EUA são a única potência e que estão
dispostos a exercer sua hegemonia.
O problema da aventura militar de
Bush é que ela não ocorre sem custos. Ela pode terminar por lançar o
mundo numa grande recessão e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio. Mais importante, porém, é que haverá perda de vidas de civis iraquianos, que são tão inocentes quanto os norte-americanos mortos nos atentados de 11 de setembro.
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