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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Uma luz democrática no fundo do túnel

As notícias desta semana trouxeram ares de muita esperança. Os políticos estão se pondo de acordo para aprovar as reformas estruturais. Lideranças do PSDB, do PMDB e do PFL expressaram claramente que ajudarão o PT e os demais partidos da situação a aprovar as mudanças.
Essa foi uma atitude mais do que coerente. Foi um posicionamento responsável, amadurecido e patriótico.
A urgência das reformas é desumana. Além dos graves e conhecidos problemas internos causados pelo anacronismo das leis das aposentadorias, dos impostos e do trabalho, o cenário internacional está ameaçando colocar o Brasil numa área de extremo risco.
A guerra contra o terror (de que tanto se fala) é, na verdade, uma guerra pelo domínio da energia e, mais precisamente, do petróleo. Os Estados Unidos, como os maiores consumidores de combustível fóssil, já entraram numa camisa-de-força. A crise da Venezuela, sozinha, forçou os americanos a usarem parte de suas preciosas reservas.
A eventual destruição dos poços de petróleo a ser realizada por Saddam Hussein antes mesmo do início da guerra levará o caos ao suprimento internacional. As reservas do Cazaquistão e de outras nações da ex-União Soviética estão sendo controladas sorrateiramente por grandes nações, com predominância da China.
O quadro é de grande perigo. Uma crise de oferta jogará o preço do petróleo para a estratosfera, com gravíssimas repercussões para a economia mundial, provocando uma recessão de longa duração nos Estados Unidos, na Europa e em parte da Ásia -o que, evidentemente, afetará o Brasil nas vias da importação e da exportação.
No meio de um descontrole tão generalizado -que, oxalá, não ocorra-, é pouco provável que as linhas de crédito externo venham a ser restauradas para o Brasil ao nível da normalidade, aumentando, assim, a pressão sobre o dólar e, consequentemente, sobre a inflação.
O nosso precário equilíbrio macroeconômico vem sendo contido com o receituário que os novos ministros e o presidente do Banco Central encontraram sobre suas mesas. Mas não podemos continuar assim o tempo todo. O Brasil tem de voltar a despertar o interesse dos investidores externos nos setores da produção. Isso é fundamental para o crescimento, a exportação e o emprego.
O Brasil só atrairá a atenção do restante do mundo quando as pessoas se convencerem de que o desacerto das finanças públicas teve um basta; que o futuro será de orçamentos saudáveis; que o endividamento cairá de forma consistente; que as exportações ganharão competitividade; que o trabalho será estimulado, e não punido. Tudo isso depende das reformas, principalmente, da Previdência, tributária e trabalhista.
Essa tarefa está nas mãos dos parlamentares de Brasília. As reformas são urgentíssimas. É desse jogo democrático, sadio e patriótico que depende a concretização das esperanças do povo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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