São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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EXPLICAÇÕES DO BC

A surpreendente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa de juro básica em 16,5% desagradou a boa parte dos agentes econômicos. A queda do risco-país, a valorização do real e a ausência de pressões de demanda (dada a retomada ainda desigual da economia, o elevado desemprego e a queda no rendimento do trabalho) pareciam permitir uma redução mais decidida da taxa básica -embora o mercado apostasse em queda de apenas meio ponto percentual.
É verdade que havia indicações de repasses de preços em decorrência de aumentos de custos em setores da indústria. Juro alto, no entanto, não é remédio para reverter possíveis choques de custos. Ele pode, no máximo, ao desacelerar a economia, deter sua propagação.
O BC alegou ser necessário tempo para analisar os efeitos da queda de dez pontos percentuais ocorrida de junho a dezembro. Essa aparente "insensatez" do Copom levou o deputado Delfim Netto a pensar em pedir que a Comissão de Economia e de Finanças da Câmara convoque a direção do BC para explicar o modelo econômico e os números utilizados para justificar suas decisões.
Desde meados do ano passado, estava se configurando um cenário de redução nas taxas de juros e melhora das contas externas que permitiria a retomada da atividade produtiva com estabilidade -o prometido "espetáculo do crescimento".
A decisão do Copom perturbou esse cenário, gerando instabilidade e incerteza. Um dos possíveis efeitos da interrupção dos cortes nos juros deverá ser a queda na recomposição dos estoques, uma importante fonte de estímulo para dinamizar a economia no início do ano.
Além disso, a manutenção da taxa Selic tem impactos deletérios sobre as finanças públicas. Uma queda de meio ponto percentual na Selic, que já seria cautelosa, poderia significar uma economia de R$ 3,6 bilhões ao longo do ano. A redução das obrigações da dívida é mais que desejável, tendo em vista as restrições das finanças públicas, também premidas pela elevada meta (4,25%) de superávit primário. Tem razão, portanto, o deputado Delfim Netto ao desejar que o BC preste à sociedade uma explicação convincente.


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