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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Como melhorar o ensino
Educação no Brasil não presta.
Nosso problema de ensino não é
apenas de quantidade -de mais vagas, escolas e professores. É de qualidade: em todos os níveis, tanto na
grande maioria das escolas particulares quanto nas escolas públicas, o ensino é pior do que medíocre; é péssimo. Sua ruindade se torna mais patente à medida que as atenções do país
se voltam para a difusão do ensino
médio.
Péssima em dois aspectos. Em primeiro lugar, porque falta a grande
parte do professorado o domínio das
matérias que ensina. Em segundo lugar, porque o ensino, mesmo nas escolas privadas frequentadas pelas
classes abastadas, continua preocupado com a transmissão de informações.
É enciclopédico em vez de ser seletivo.
É factual em vez de ser analítico. É simultaneamente massificado, individualista e autoritário em vez de ser
cooperativo. Sempre há o milagre dos
talentos que se afirmam contra o
meio. Mais importante é a tragédia
das vocações, que, aos milhões, nunca
se revelam, sufocadas no berço por
falta de instrumentos e de inspiração.
A solução começa na convergência
entre três séries de iniciativas. Todas
se aplicam, com ajustes, às outras
áreas da política social, inclusive a saúde e a segurança.
A primeira iniciativa é a organização
de um núcleo de reformadores que dirija a reorientação do nosso ensino. E
que nos dê escolas que, preferindo o
aprofundamento instigante à abrangência superficial, usem a informação
para desenvolver a capacidade de análise.
A segunda iniciativa é a formação do
professorado. Ganhos de salário e melhores oportunidades devem estar
condicionados a todo um itinerário de
qualificações progressivamente mais
exigentes. Os Estados e os municípios
têm de participar. Só o governo federal, porém, pode bancar. A terceira
iniciativa é a associação do governo federal, dos Estados e dos municípios
em órgãos transfederais que vigiem e
assegurem o preenchimento de mínimos de investimento por aluno e de
desempenho por escola. É um sistema
que exige para funcionar mecanismos
de redistribuição de recursos dos Estados e municípios mais ricos para os
mais pobres. E que requer procedimentos para intervir, corretivamente,
quando esses mínimos deixem de ser
preenchidos. Ao cidadão deve caber
recurso rápido ao Judiciário, à custa
do Tesouro, sempre que os órgãos
transfederais malograrem em sua tarefa.
Dessas iniciativas pode resultar uma
escola pública capaz de atrair a classe
média. As melhores escolas devem ser
as públicas, como ocorre em muitos
países europeus. Beneficiária do ensino público, a classe média se tornará
fiadora de sua qualidade, em proveito
de toda a população.
A medida mais importante para alcançar os pobres é um programa federal maciço de bolsas de custeio que
identifique em cada etapa do ensino as
crianças mais dotadas ou aplicadas e
que responda com ajuda pública generosa a cada demonstração de talento e de esforço. O resultado será revelar entre nossas crianças, sobretudo
nas pobres e de cor, a genialidade
oculta da nação.
Diz-se que reforma de educação só
surte efeito a longo prazo. Não é verdade. Um programa como esse produz efeitos imediatos e dramáticos.
Desperta ambições e emulações em
cada família brasileira. Respeita as
crianças como gente grande. Fala às
cabeças. Mas levanta o país pelos corações.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.
www.idj.org.br
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