São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2002

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MÁRIO MAGALHÃES

Questões técnicas, meramente

RIO DE JANEIRO - É cedo ainda para avaliar se a epidemia de dengue contaminará a campanha de José Serra. Até agora não há indicação de que isso vá ocorrer.
Apreciações técnicas sobre a doença feitas por ele -e por um assessor direto- quando ainda ministro da Saúde já podem, no entanto, ser cotejadas com fatos:
1) Serra afirmou que a dispensa em 1999 de 5.792 mata-mosquitos contratados por temporada pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde) não tem relação com ""o atual problema" no Rio. Se os servidores tivessem sido mantidos, ""o mais provável é que [a situação" estivesse igual, se não pior", disse Serra.
O recente envio às pressas de 1.018 mata-mosquitos de outros Estados e o treinamento de 1.300 militares (por falta de preparo, só entram em ação em 6 de março) indicam o contrário: a falta de pessoal qualificado, na prevenção e durante a crise, contribuiu para o crescimento da epidemia;
2) o ex-ministro sustenta sua opinião com dados: em 1998, houve 32.382 casos notificados no Estado do Rio. Em 1999, 9.083. Em 2000, 4.281. ""Em 99 e 2000, a dengue caiu muito", disse. ""Ou seja: não há uma relação entre o atual problema (...) e o problema dos mata-mosquitos".
Não é o que os dados sugerem. Em 1999, os mata-mosquitos trabalharam no verão. Em 2000, o Estado do Rio se beneficiou de seis meses de prevenção feita pelos 5.792 agentes, só afastados no fim de junho de 1999.
Em 2001, primeiro ano em que nos 12 meses do ano anterior (2000) os contratados da Funasa não atuaram, houve 68.438 notificações. Em 2002 deve haver mais;
3) na semana passada, o presidente da Funasa, Mauro Costa, dizia que a epidemia no Rio era ""localizada". ""Houve redução da ocorrência de dengue em 31%, se excluir os números do Rio", afirmou.
A observação subestima números ascendentes em outros Estados. E, se é para subtrair rincões, o recorde nacional de 1998 (559.237) cai em 51,77% com o sumiço dos casos de Minas, Pernambuco e Paraíba.


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