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AUTOCRACIA RUSSA
Sem que ninguém esperasse, o
presidente da Rússia, Vladimir
Putin, demitiu o primeiro-ministro
Mikhail Kasyanov e todo o seu gabinete. O detalhe intrigante é que a dissolução do governo ocorre apenas
três semanas antes da eleição presidencial de 14 de março, na qual a recondução de Putin é tida como certa.
Depois do pleito, o gabinete teria
obrigatoriamente de abdicar. A pergunta que fica é: por que Putin, que
em três semanas e sem nenhum tipo
de trauma estaria livre do gabinete,
decidiu antecipar a substituição?
Para os eleitores, o presidente russo posa de democrata e afirma ser
justo que a população conheça antes
do pleito os nomes que vão compor
o próximo governo. Qualquer explicação que prescinda da "vocação democrática" de Putin é mais verossímil. O presidente, que iniciou sua
carreira na antiga KGB, vem já há algum tempo sendo criticado por conta de uma escalada autoritária que inclui o fechamento de órgãos de imprensa e a prisão de desafetos.
Ao dissolver o governo, Putin mostra que é ele quem manda e ainda cria
um certo suspense eleitoral. Sua vitória é tão certa que encerra um paradoxo: como tem o apoio de algo entre 70% e 80% dos russos, muitos
podem deixar de votar no dia 14 e, para valer, o pleito precisa contar com a
participação de 50% do eleitorado.
Certamente pesou na decisão de
Putin a forte queda na popularidade
de Kasyanov, acentuada nos últimos
meses. De resto, o premiê, no governo desde os tempos de Boris Ieltsin,
era visto como excessivamente próximo aos chamados oligarcas, os empresários -muitas vezes ligados à
máfia- que enriqueceram com as
privatizações da década de 90.
Enquanto se aguarda a divulgação
do novo nome, reforça-se a impressão de que Putin vai imprimindo ao
exercício da Presidência um perfil
crescentemente autocrático -e nisso ele encontra longa e perigosa tradição na história de seu país.
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