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BARREIRA RELIGIOSA
A religião está indissociavelmente ligada ao processo civilizatório. Reconhecer esse fato antropológico não significa considerar
que as religiões sempre atuem em favor da civilização. Em muitos casos,
infelizmente, essa não é a regra.
Uma recente e caricata ação de líderes religiosos contra o progresso humano partiu de clérigos islâmicos de Estados do norte da Nigéria. Baseados no suposto caráter "não-islâmico" da vacina contra a poliomielite,
autoridades dos Estados de Kano e
Zamfara decidiram boicotar os esforços da Organização Mundial da
Saúde (OMS) de erradicar a poliomielite do planeta com a vacinação
em massa de crianças nas áreas onde
a doença ainda existe.
O plano era vacinar 60 milhões em
dez países da África ocidental nesta
semana, dentro da estratégia de
aproveitar o relativo confinamento
do vírus da pólio a três zonas -África ocidental, Egito e Índia-Paquistão- para tentar um golpe final contra a moléstia. A Nigéria é um país-chave para a erradicação, uma vez
que responde pela metade de todos
os novos casos mundiais da doença.
A proibição da vacina surgiu devido
a rumores de que ela causaria infertilidade. Tudo faria parte de um complô norte-americano para tornar as
mulheres muçulmanas inférteis.
Pregadores islâmicos mais radicais
são contra todas as vacinas, por considerá-las não-islâmicas -se Deus
quiser que você morra, você morrerá;
se Ele não quiser, você não morrerá.
Apesar do respeito que se deve às
religiões, essa é uma atitude obscurantista e criminosa, que deveria ser
prontamente combatida pelas autoridades federais nigerianas, um Estado que é formalmente laico. O vírus
da pólio não respeita fronteiras entre
nações e não verifica a religião das
crianças que infecta, aleija e mata.
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