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OTAVIO FRIAS FILHO
Mais à direita
O PT ainda não sabia acobertar escândalos. Passou quase duas décadas fazendo o contrário, ou seja, insuflando crises para desgastar os adversários então no governo. É o que
explica as trapalhadas da turma de Lula quando surpreendida pelo caso
Waldomiro. Mesmo um partido que
se mostra tão lépido quando se trata
de mudar para pior demorou alguns
dias para aprender o jeito.
A tentativa de chantagear os demais
partidos -esse era o sentido da abortada manobra para criar a CPI das
CPIs- teve efeito bumerangue. O governo percebeu que a partir de agora
não está mais em posição de chantagear, mas de ser chantageado. Velhas
raposas do Congresso, recuperadas
do ostracismo pelo próprio Lula,
abortaram a investigação desconfortável. Ganharam ainda mais força junto ao governo "popular".
Pretendeu-se organizar manifestações de apoio ao ministro José Dirceu.
Em boa hora essa idéia também foi
abandonada. Menos pelo fato de que
manifestações assim são próprias de
regimes de partido único, quando a
massa manipulável é colocada nas
ruas para exibir seu amor ao governo,
do que pelo receio de que os comícios
também deflagrassem um efeito bumerangue e o ministro terminasse
vaiado pelos que deveriam aplaudi-lo.
O governo Lula prometeu mudar a
política econômica -isso era mentira. Prometeu melhorar o desempenho
do poder público na área social -isso
era enrolação. Prometeu inibir a especulação financeira e fomentar a produção -era uma farsa. Agora, cai a última máscara, quando todo mundo
constata que até mesmo o compromisso com a moralidade administrativa não era para valer.
No novo ideário petista, os princípios republicanos passam a ter valor
instrumental. Se um adversário é leniente com falcatruas, ele é tachado de
corrupto e deve ser punido. Se idêntica conduta é identificada no governo
do PT, praticada por pessoa que um
leitor chamou de "braço direito do
braço direito", quem deve ser desqualificado são a imprensa, o Ministério
Público e os adversários do partido.
Tamanha desfaçatez é apresentada
como argumento intelectual...
O governo parece ter perdido o último dique protetor da sua popularidade. Se não aparecerem os chamados
fatos novos, a crise deve minguar
-deixando, porém, uma marca permanente na imagem da administração petista, que nunca mais será a
mesma. As próximas pesquisas de
opinião revelarão o tamanho da fratura no prestígio de Lula e cia.
A população em geral demora mais
tempo para absorver o que está cada
vez mais claro aos olhos da classe média leitora de jornais, o eixo de gravidade da política no Brasil. Trata-se de
um governo que praticou estelionato
eleitoral, que abjurou de princípios,
que se lançou às benesses do poder
com a voracidade canhestra de quem
nunca comeu melaço.
O saldo mais provável desta crise será um quadro em que o governo ficará
mais fraco, os "coronéis" ficarão fortalecidos no Congresso e o ministro
José Dirceu ficará vagando como alma
penada. O Planalto tenderá a depender mais das fontes de apoio incrustadas no mercado e nos grandes grupos
econômicos. O governo como um todo irá ainda mais para a direita.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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