São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Tá nem aí...

JOSÉ CARLOS ALELUIA

O operário do ABC, o camelô da Cinelândia, o desempregado da praça Sete de Belo Horizonte e o cortador de cana da Zona da Mata de Pernambuco não sabem o que é Cofins. Mas sabem quanto custa um quilo de arroz (R$ 1,95), de café (R$ 6,72) ou um litro de óleo de soja (R$ 2,55), alimentos que fazem parte da cesta básica.
Da próxima vez que esses brasileiros forem ao mercado, esses produtos estarão mais caros. A conta, que hoje é de R$ 11,22, pode chegar a R$ 13,85, se os aumentos propostos pelas indústrias atingirem o máximo. É nessa hora que os trabalhadores começarão a sentir no bolso os efeitos perversos da reforma tributária do PT.
Por causa dela, estamos assistindo ao único espetáculo do crescimento promovido, até aqui, pelo governo: o do crescimento dos preços da cesta básica. E, podem ter certeza, infelizmente esse "espetáculo" está apenas começando.
Durante a tramitação da reforma tributária, o PT rotulou seus críticos de alarmistas e acusou-os de fazer terrorismo. Prometeu não aumentar a carga tributária. Não cumpriu a promessa, e hoje está cada vez mais claro que o PFL tinha razão ao criticar a reforma. Entre outras conseqüências cruéis, provocou o aumento da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), de 3% para 7,6% em alguns produtos e serviços, e está alavancando a inflação.


A pior conseqüência da pressão pelo aumento dos preços é o desemprego, no campo e na cidade


A maior prova disso é a disposição das indústrias em aumentar o preço do arroz em até 40%. O do café pode chegar a 22%, e o do óleo de soja a 15%. Ao todo, são quase cem tipos de mercadorias, do feijão aos enlatados. Uma contradição e tanto para um governo que promete acabar com a fome, mas faz subir os preços dos alimentos mais consumidos pela população de baixa renda.
As indústrias integram uma cadeia produtiva que começa na produção das matérias-primas a serem processadas e termina na embalagem e transporte até os revendedores. Se o preço sobe na ponta, reflete no produto final e contamina todo o processo. É exatamente isso o que está acontecendo.
Não basta copiar a política econômica do governo anterior. É preciso competência para gerenciá-la, e a realidade está mostrando que o PT é muito bom de crítica quando está na oposição, mas ruim de serviço quando vira governo. Além de prometer e não entregar, usa propaganda enganosa para fazer cortina de fumaça e esconder sua incompetência. O povo já percebeu isso. De acordo com os números da última pesquisa CNT/Sensus, menos da metade dos entrevistados (48%) crêem que o governo está cumprindo suas promessas. Há poucos meses, eram quase 60% os que acreditavam nas promessas do PT.
A pior conseqüência da pressão pelo aumento dos preços é o desemprego, no campo e na cidade. Se, por exemplo, o arroz subir até 40%, como publicou a Folha de S. Paulo na edição de 10 de fevereiro, o trabalhador vai comer menos, e as vendas cairão. Está formada a corrente da perversidade, na qual todos perdem.
Nesse ritmo, o governo do PT vai bater o seu próprio recorde de desemprego, e a meta de gerar 10 milhões de postos de trabalho fica cada vez mais distante. Hoje, registra a pesquisa CNT/ Sensus, 53% dos brasileiros cobram mais atenção do governo para o desemprego.
A cada dia fica mais claro que a equipe ministerial é ineficiente, e o presidente está muito mais preocupado em fazer turismo e exibir factóides no exterior do que em agir rápido para, por exemplo, diminuir o sofrimento das vítimas das chuvas. Não adianta ir lá e fazer discurso bonito, porque este tipo de problema se resolve com ação.
A reforma tributária do PT começa a mostrar seu lado perverso, atingindo em cheio o bolso da população, principalmente os pobres e a classe média. Enquanto o povo é obrigado a apertar o cinto, o piloto quer gastar R$ 165 milhões num avião novinho em folha, consumindo 74% da verba de reaparelhamento da FAB. Não tá nem aí.

José Carlos Aleluia, 54, deputado federal pelo PFL da Bahia, é o líder do partido na Câmara dos Deputados.


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